O projecto de lei que prevê um teor máximo de sal no pão português foi aprovado, na passada sexta-feira no Parlamento, com cinco votos contra e uma abstenção, mas tudo indica que vai ser necessário limar muitas arestas quando passar à discussão na especialidade, até porque se admite que é possível abrir excepções para os produtos tradicionais.
Os industriais de panificação referem quem não faz sentido regular, por decreto, um processo que é tão complexo, numa altura em que há muitas padarias que já vendem pão com valores semelhantes ou inferiores aos agora preconizados.
Os industriais referem ainda que uma redução mais radical pode descaracterizar alguns tipos de pão.
Do lado dos especialistas em nutrição e em saúde pública, todas as tentativas para reduzir o consumo de sal pela população merecem aplausos, pois os portugueses consomem o dobro da quantidade diária de sal recomendada pela OMS (cinco gramas).
Além disso, só a elevada incidência e mortalidade por acidente vascular cerebral (AVC) e cancro gástrico em Portugal - dois fenómenos "com muito provável relação com o elevado consumo de sal", como diz Jorge Polónia, orientador do estudo da Universidade Fernando Pessoa que em 2007 caracterizou o pão português como dos mais salgados da Europa - seriam mais do que suficientes para se disciplinar este consumo.
O projecto prevê que, numa primeira fase, cada quilograma de pão não tenha mais do que 14 gramas de sal, uma redução da ordem de cerca de 25%.
Mas a ideia não é ficar por aqui, pois está prevista uma revisão dos valores, quando as papilas gustativas dos portugueses já estiverem adaptadas a um pão com menos sal, isto porque se pretende que o processo seja gradual e imperceptível ao paladar.
O Presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão, Luís Martins, prevê que esta seja uma guerra para 20 ou 30 ano e classifica o consumo excessivo de sal como o principal problema de saúde pública em Portugal.
O Presidente da Associação dos Industriais de Panificação, Pastelaria e Similares do Centro, Carlos Santos, refere que 80% das padarias desta região já vende pão com valores iguais ou inferiores ao estipulado no diploma, isso porque a maior parte dos industriais aderiu ao projecto "Pão.come", promovido pela Administração Regional de Saúde local desde 2007, e que implica uma redução paulatina, ao longo de uma década, do teor de sal no pão.
Carlos Santos defende que esta é "uma falsa questão", frisando que a Comissão Europeia não quis legislar sobre esta matéria.
António Fontes, da Associação de Industriais de Panificação do Norte, apesar de entender a necessidade de diminuir o teor de sal no pão, discorda completamente que isso se faça por decreto.
António Fontes garante que já estão a descer ao sal e podem ir mais longe, se esta atitude for concertada.
Fonte: Público