Um estudo conduzido por embaixadores do Pacto Climático Europeu revela que o aumento de visitantes em Portugal acelera o consumo de alimentos ultraprocessados, colocando a gastronomia tradicional portuguesa em risco.
Quem costuma passear-se nas ruas lisboetas ou pelas praias algarvias não terá deixado de notar o fenómeno. Sejam do Reino Unido, de Espanha, de França ou da Alemanha, o número de turistas em Portugal está a aumentar cada vez mais – e isso já há duas décadas. Só em 2024, o país registou mais de 30 milhões de turistas estrangeiros e 27 mil milhões de euros em receitas, segundo estatísticas do Turismo de Portugal. Entre as consequências desta evolução: o aumento da oferta hoteleira e a explosão dos preços. No entanto, o estudo Food and Tourism Nexus, Challenges and Opportunities coordenado por embaixadores do Pacto Climático Europeu, chegou a uma nova conclusão, não menos alarmante.
Embora o turismo de massa tenha inicialmente impulsionado o número de restaurantes em Portugal, o estudo mostrou que o aumento dos preços que se seguiu, está atualmente a favorecer o consumo de alimentos ultraprocessados de baixo valor nutritivo. Produtos regionais e sazonais estão substituídos por alternativas padronizadas, mais baratas e muitas vezes provenientes de grandes empresas do setor alimentar, alinhadas com os hábitos dos visitantes. Em vez de valorizar a gastronomia local, estas práticas colocam em risco a identidade gastronómica portuguesa, alerta Amélia Delgado, investigadora especialista em ciência dos alimentos, que coordenou o estudo.
Além disso, é também a saúde pública e a segurança alimentar que se encontram ameaçadas. Enquanto a dieta mediterrânica representa um modelo equilibrado, “onde predomina a sazonalidade e a ausência de desperdício”, um grande número de turistas procura “uma dieta globalizada, baseada em produtos industriais ou exóticos, que não são adaptados ao clima local nem a uma dieta equilibrada, relegando a gastronomia tradicional para segundo plano”, salienta a investigadora. Ao enfrentar esta situação, os pequenos produtores locais têm dificuldade em manter o seu lugar no mercado e garantir a sua sobrevivência.
Os autores do estudo e embaixadores do Pacto Climático Europeu apelam, por isso, à Associação Nacional de Municípios Portugueses – ANMP para que políticas de sustentabilidade alimentar sejam implementadas nos municípios. Nomeadamente, através da criação de programas de apoio aos pequenos produtores, de incentivos aos circuitos curtos de distribuição e da garantia de que a restauração turística privilegia produtos regionais e sazonais – preservando assim a biodiversidade, bem como a identidade gastronómica portuguesa.
Fonte: Tecnoalimentar