Os Açores exportaram para o continente cerca de dez toneladas de carne produzida nas ilhas com Indicação Geográfica Protegida (IGP), um processo que arrancou em Fevereiro, anunciou hoje uma fonte da Federação Agrícola dos Açores.
Paulo Costa, representante da Federação Agrícola dos Açores na Comissão Técnica que controla e certifica a carne IGP, adiantou que as cerca de dez toneladas de carne IGP exportadas, entre 26 Fevereiro e 20 de Abril, correspondem a 37 animais das ilhas do Faial e Pico.
As primeiras peças de carne IGP do arquipélago começaram a ser vendidas numa grande superfície comercial do continente no final de Fevereiro, depois dos animais terem sido abatidos no matadouro da ilha Terceira, o único com esta tarefa na região até ao momento.
Em negociação entre a Secretaria Regional da Agricultura e Florestas e a Sociedade Verdeatlântico está a possibilidade do matadouro da ilha do Pico passar, também, a abater e desmanchar animais com a certificação de carne IGP.
A carne dos bovinos açorianos é considerada Indicação Geográfica Protegida (IGP) quando for proveniente das carcaças de animais nascidos, criados e abatidos na região, em moldes tradicionais e de acordo com um caderno de especificações.
Como moldes tradicionais são considerados critérios de crescimento em pastoreio, alimentação à base de erva fresca, abate e desmanche controlados.
Paulo Costa explicou que são abatidos e desmanchados na Terceira dez animais, de quinze em quinze dias, provenientes de várias ilhas do arquipélago, com excepção do Corvo.
Devido ao stress e perda de peso com a viagem, os animais que chegam à Terceira para serem abatidos aguardam durante 24 horas, dado que têm de estar em jejum para diminuir a possibilidade de contaminação microbacteriana da carne, através das fezes, na altura da morte, explicou.
Paulo Costa explicou que "a carne segue depois para Lisboa num contentor embalada em vácuo e colocada em caixas de frio", acrescentando que as peças são enviadas em bruto por não existir, ainda, nas ilhas nenhum talho certificado para a venda deste tipo de carne.
Embora a capacidade da sala de desmancha do matadouro da Terceira não esteja esgotada, Paulo Costa sublinhou que o projecto da carne IGP foi pensado para crescer de "forma gradual e sustentada", daí ter arrancado apenas com o abate de dez animais de duas em duas semanas.
Neste momento, estão certificadas 245 explorações autorizadas a produzir carne IGP, enquanto cerca de 25 aguardam aprovação, estimando-se que sejam abatidos, anualmente, cinco mil animais com as características exigidas durante 2007.
O preço pago por animal é fixado consoante a classificação da carcaça, que obedece a uma grelha comunitária para a carne IGP compreendida entre o nível razoável (3,40 euros por quilograma de carcaça) e excelente (3,70 euros), afirmou.
Uma média de dez carcaças vendidas no continente rende ao produtor 10.364 euros, um valor que Paulo Costa considerou expectável que aumente nos próximos anos, fruto da adesão de mais produtores e do reconhecimento público da qualidade da carne pelos consumidores.
Estabelecer mais canais de comercialização, aumentar o número de animais e produtores certificados e reforçar a investigação e os estudos científicos sobre o sector nos Açores são alguns dos desafios a alcançar no futuro, salientou o engenheiro zootécnico Paulo Costa.
Para Maio, está agendada o início da comercialização da carne IGP em São Miguel, a primeira ilha na região, através de uma loja "gourmet", inserida numa unidade hoteleira da cidade de Ponta Delgada.
A União Europeia (UE) reconheceu à região a possibilidade de produzir carne IGP em 2003, o que significa que mais nenhuma carne produzida e comercializada no arquipélago, ou fora dele, pode ostentar na sua rotulagem a palavra Açores.
Fonte: Lusa