Foram identificados recentemente alguns dos mecanismos de defesa da Salmonella em ambientes extremamente ácidos, de acordo com uma tese de doutoramento publicada na Universidade de León, em Espanha.
Esta bactéria é a causa de uma das mais comuns intoxicações alimentares e resiste a níveis de pH próximos de 1,5 no estômago dos hospedeiros.
A investigação, realizada na área de Tecnologia Alimentar, permitiu identificar duas das formas que permitem a duas das estirpes do género Salmonella resistir às agressões externas, o que poderá resultar em futuras melhorias no controlo do agente causador da salmonelose.
Conduzido pelo investigador Avelino Álvarez no âmbito da sua tese de doutorado, apresentada no passado dia 12 de Maio, e sob a direcção das professoras Ana Bernardo Álvarez e Mercedes López Fernández, o estudo consistiu na análise de duas estirpes de Salmonella: Salmonella typhimurium e Salmonella senftenberg.
A S. typhimurium é uma das espécies de Salmonella que causa mais frequentemente infecções de origem alimentar nos seres humanos, cerca de 30% dos casos de salmonelose.
A S. senftenberg é frequentemente utilizada no âmbito da investigação científica, por ser considerada um indicador biológico por excelência pela sua elevada resistência a tratamentos térmicos.
A investigação foi dividida em duas partes: um estudo da resistência bacteriana a distintas condições de stress após a sua adaptação à acidez e uma análise dos mecanismos moleculares que activam as bactérias para resistir a tais situações de stress.
As culturas de bactérias foram submetidas a stress ácido (com pH muito baixo, próximo do pH existente no estômago) e stress térmico, alcalino, oxidativo e osmótico.
Avelino Álvarez conseguiu identificar sistemas de protecção em dois pontos específicos, a membrana da bactéria e os sistemas homeostáticos “arginina descarboxilase” e “lisina descarboxilase”, ou seja, nas zonas onde a Salmonella apresenta mais contacto com o ambiente externo e através das quais regula o seu ambiente interno para manter condições estáveis.
Os estudos realizados até então são bastante contraditórios relativamente aos mecanismos moleculares de defesa da Salmonella spp., embora tenham sido feitos progressos significativos relativamente à Escherichia coli.
As células adaptadas às situações mais agressivas de pH também apresentaram resistência ao calor e stress alcalino, mas os restantes indicadores permaneceram inalterados.
Na membrana, a bactéria é capaz de modificar a sua composição de ácidos gordos para superar os baixos níveis de pH aumentando os níveis de ácidos gordos cíclicos derivados do ciclopropano. O gene envolvido neste processo designa-se cfa.
Os sistemas "arginina descarboxilase” e “lisina descarboxilase" facilitam a homeostase celular aumentando o pH intracelular para contrabalançar com as condições externas. Aqui, os genes envolvidos são conhecidos como adi e dac, respectivamente.
Avelino Álvarez afirma que existem outros mecanismos que permitem às bactérias enfrentam estas situações de stress ácido, de modo que as próximas metas serão investiga-los.
A descoberta dos mecanismos de defesa da Salmonella poderá permitir um controlo mais eficaz da salmonelose.
Fonte: Universidad de León