As fibras ópticas, muito utilizadas em telecomunicações para transmissão de dados, podem agora ajudar a analisar a qualidade da água.
Está em desenvolvimento na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) um sensor capaz de identificar bactérias presentes em uma determinada amostra de água.
O bacteriosensor, como foi baptizado, pode fazer em minutos o trabalho realizado em cerca de três dias pelas técnicas convencionais de análise.
O sensor consiste em uma fibra óptica na qual é colocado um anticorpo da bactéria específica que se quer identificar.
As fibras ópticas são muito finas (com diâmetro menor que o de um fio de cabelo) em que a luz passa por um caminho determinado.
No caso do bacteriosensor, elas são feitas de plástico, devido ao baixo custo e à facilidade de manuseio, mas elas também podem ser feitas de vidro.
Depois que a fibra óptica entra em contacto com a água, os antigénios das bactérias presentes na amostra reagem com os anticorpos do sensor.
Antigénios e anticorpos são moléculas que se encaixam, com se fossem uma chave e a sua fechadura.
Por isso um anticorpo específico só pode se associar ao antigénio de determinada bactéria.
Essa ligação faz com que os microrganismos fiquem colados à fibra.
Ao passar pela fibra, a luz sofre uma interferência. A análise da distorção permite apontar a quantidade de bactérias na amostra.
Actualmente o bacteriosensor identificou apenas a Escherichia coli – um tipo de coliforme fecal que funciona como indicador da qualidade da água.
É necessário fazer mais do que um teste para verificar a existência de outras espécies de microrganismos, porque o aparelho identifica apenas a bactéria de um antigénio específico, ou seja, uma de cada vez.
“É preciso saber exactamente que bactéria está a ser procurada”, conta o engenheiro Marcelo Werneck, coordenador do Laboratório de Instrumental e Fotônica (LIF), vinculado à Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia (Coppe), onde o projecto está a ser desenvolvido. ”Começámos com a análise da água porque essa é uma questão fundamental. A quantidade de E. coli indica, por exemplo, se a água entrou ou não em contacto com o esgoto.”
O bacteriosensor pode ser usado para identificar não só bactérias, como também outras substâncias.
Por isso o dispositivo poderá ser usado para analisar alimentos e medicamentos, bem como sangue e urina.
Os pesquisadores têm grande interesse em viabilizar o uso desse aparelho para as pessoas em geral, e não apenas para os laboratórios. “Pretendemos fazer com que o bacteriosensor possa ser usado por qualquer um”, conta Werneck. “Seria um aparelho portátil que tornaria possível, por exemplo, ir à praia e saber como está a qualidade da água antes de entrar no mar”.
Até ao final do ano os investigadores já terão um protótipo pronto para identificar a E. coli, mas não sabem quando o aparelho poderá chegar ao mercado. “Por enquanto o dispositivo é uma fibra montada no laboratório, temos que desenvolver um aparelho propriamente dito ainda”, explica. Depois começaremos a trabalhar na identificação de outros tipos de bactérias.”
Uma primeira versão do sensor, que identificava a E. coli por meio da presença de nutrientes específicos para essa bactéria e antibióticos para impedir o desenvolvimento dos outros tipos, foi patenteada.
O LIF já entrou com o pedido de patente para esse método mais específico, que utiliza a relação antigénio/anticorpo.
“Antes o processo de identificação demorava cerca de cinco horas. Queremos que esse tempo se reduza a minutos e a relação antigénio/anticorpo –muito mais específica que a relação entre o organismo e o nutriente – tornou possível essa diminuição”, conta Werneck.
Fonte: TecnoCientista