Uma nova base de dados nacional vai ajudar os portugueses a avaliar o que comem, convertendo os alimentos que ingerem em nutrientes.
Mais de 900 produtos alimentares crus e cozinhados foram analisados à lupa pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) e reunidos na nova Tabela da Composição de Alimentos.
O documento é apresentado hoje, em Lisboa, e será usado no próximo Inquérito Alimentar Nacional.
"É uma espécie de Bilhete de Identidade de cada alimento, uma ferramenta indispensável a qualquer estudo nutricional, a qualquer nutricionista que estabeleça uma dieta para uma pessoa que tenha de fazer restrições, mas serve também para ajudar a criar políticas nutricionais", diz Maria Antónia Calhau, do Centro de Segurança Alimentar e Nutrição do INSA.
Um alerta: "Não é uma roda dos alimentos nem uma pirâmide alimentar, não nos diz quanto devemos comer de cada grupo, mas o que comemos em cada alimento."
Das colas light aos éclairs de chocolate, das sopas julianas ao arroz de polvo com azeite, todos os alimentos mais consumidos pelos portugueses foram analisados.
Deles, pode ficar a saber-se quantas calorias têm, de quanta água são compostos ou qual a quantidade de proteínas que fornecem.
É que a recente alteração dos hábitos alimentares da população - "particularmente nos anos 80" - deixou claro, diz a especialista, a necessidade de rever a única Tabela da Composição dos Alimentos Portugueses, criada em 1961. E como "estão sempre a surgir novos alimentos, e os hábitos também se alteram, tínhamos de produzir uma nova base de dados".
A tabela do INSA é, assim, "uma referência nacional para a composição dos alimentos consumidos pelos portugueses" e "pode também ser utilizada como suporte científico de programas de intervenção nesta área da saúde pública".
Os dados são essenciais para a realização de estudos epidemiológicos que relacionem a alimentação com a doença e podem ser utilizados no aconselhamento dietético, na clínica, no ensino ou até para efeitos de rotulagem na indústria agro-alimentar.
A revisão da tabela "não foi uma recomendação do Ministério da Saúde, mas é uma ferramenta importante para a tutela definir políticas de alimentação nas escolas, por exemplo", avança a responsável.
Por outro lado, "há muitos consumidores interessados em conhecer os produtos que comem". Por isso, o INSA estabeleceu um protocolo com a associação de defesa do consumidor DECO, "que em breve vai dispensar a informação da tabela aos seus associados".
A maioria dos alimentos estudados - 962 produtos crus e cozinhados e 42 nutrientes - foi adquirida em lojas, supermercados e mercados de diversas regiões do País, nomeadamente nas áreas da Grande Lisboa e do Grande Porto.
Segundo Maria Antónia Calhau, devido à grande diversidade de alimentos, "para a maior parte deles foram recolhidas várias amostras". Por exemplo, "foram analisados vários tipos de pescada, porque, em Portugal, não há só um tipo de pescada à venda".
Para esta responsável, a existência desta nova tabela possibilitará a todos os profissionais que utilizam dados de composição dos alimentos nas suas actividades usarem a mesma fonte de dados.
E numa altura em que a pandemia de gripe das aves ameaça surgir, "uma tabela como esta permite que esses profissionais estabeleçam rações para situações de emergência em que só existem alguns alimentos, garantindo uma alimentação equilibrada".
Fonte: DN