O governador do Estado do Mato Grosso do Sul afirmou ontem que o foco de febre aftosa detectado na região pode ter tido origem no Paraguai, país com o qual o Brasil tem 800 quilómetros de fronteira.
José Orcílio Miranda dos Santos salientou que "todos os focos (de aftosa) registados no Estado do Mato Grosso do Sul aparecem por coincidência ao longo da fronteira com o Paraguai".
Miranda dos Santos esteve em Brasília para avaliar com o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, os reflexos da suspensão da importação de carne brasileira por pelo menos 32 países, após a descoberta do foco da doença.
Além dos 25 países da União Europeia, Rússia, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Israel e África do Sul também anunciaram a suspensão da importação de carne brasileira.
O foco mais recente da doença foi descoberto na propriedade rural "Vezozzo", na cidade de Eldorado, próximo da fronteira com o Paraguai, onde 582 animais já foram abatidos.
A desconfiança das autoridades de que o foco pode ter tido origem no Paraguai aumentou depois de os proprietários dos animais apresentarem os cartões de vacinação, conforme determina a legislação sanitária brasileira.
O ministro da Agricultura já determinou uma completa investigação para descobrir a origem do foco da doença e responsabilizar os culpados.
O último foco de febre aftosa, no Mato Grosso do Sul, na região Centro-Oeste, foi registo em 1999, também numa propriedade situada na fronteira com o Paraguai, salientou o governador do Estado.
O Ministério da Agricultura português anunciou ontem a proibição da entrada em Portugal de carne de bovinos abatidos depois de 30 de Setembro e proveniente do Brasil.
A febre aftosa, que não afecta o ser humano, é uma doença altamente contagiosa para animais como porcos, carneiros, vacas, cabras e ruminantes.
Os produtores brasileiros de carne prevêem uma redução de cerca de 60 por cento nas exportações de carne bovina para os países comunitários este ano.
O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de carne bovina, com um rebanho de cerca de 195 milhões, sendo 25 milhões (12,8 por cento) no Estado de Mato Grosso do Sul.
O país exportou cerca de dois milhões de toneladas de carne bovina em 2004, num total de dois mil milhões de euros, segundo informações do Ministério da Agricultura.
Em Portugal, a carne de bovinos abatidos depois de 30 de Setembro proveniente do Brasil está proibida de entrar no país, garante fonte do Ministério da Agricultura.
Em comunicado, a Direcção-Geral de Veterinária afirmou "que não chegou a Portugal qualquer carne bovina brasileira com data posterior a 30 de Setembro".
A interdição em Portugal surge depois de o Comité Permanente da Cadeia Alimentar da União Europeia ter decretado o embargo à importação de carne de vaca proveniente de três estados do Brasil: Mato Grosso do Sul, onde foi detectado o foco da doença, e os outros dois estados que com ele fazem fronteira, Paraná e São Paulo.
O presidente do Brasil, Lula da Silva, disse ontem no Porto que o seu Governo tomou no fim-de-semana "todas as providências" para eliminar o foco de febre aftosa que contaminaram várias cabeças de gado.
"Foram levantadas barreiras sanitárias, os animais contaminados foram abatidos e estamos agora a apurar responsabilidades, de modo a não acusar ninguém a priori", disse Lula da Silva durante a VIII Cimeira Luso-Brasileira, que decorre no Porto.
Lula da Silva deixou ainda claro que febre aftosa nada tem a ver com BSE, doença que obrigou ao abate em massa de cabeças de gado na Europa há alguns anos, e frisou mesmo que "no Brasil não há vaca louca".
"No Brasil, o gado não se alimenta de ração animal, é gado verde. A nossa vaca come apenas capim", sublinhou o presidente, segundo o qual a doença surgiu em animais de uma fazenda com 582 cabeças - uma gota de água no universo das 200 milhões existentes num país com a dimensão do Brasil.
O impacto no comércio internacional do surgimento de um foco de febre aftosa numa criação de gado brasileira está a levantar preocupações ao Governo do Brasil, país com mais de 200 milhões de cabeças de gado - mais "do que brasileiros", como disse Lula da Silva.
"O Brasil não é qualquer um no que toca a gado, é o primeiro", frisou Lula da Silva, que salientou a importância económica para o Brasil do mundo continuar a comer carne do seu país.
Lula da Silva salientou a necessidade de se averiguar o que se passou e considerou que, sem que isso "isente de culpas o Governo", numa "hierarquia de responsabilidades a primeira delas vai para o próprio fazendeiro, porque o gado é o seu ganha-pão".
E garantiu que o caso nada teve a ver com alguma eventual falta de recursos no sistema de vacinação dos animais, comparticipado pelo Estado brasileiro, frisando que vacinar as 582 cabeças de gado custaria "cerca de 800 reais".
"Neste momento não sabemos ainda se o gado se encontrava vacinado, apesar do proprietário garantir que sim, ou se o foi tardiamente, nem conseguimos ainda esclarecer se se tratava de gado contrabandeado", disse, garantindo que mal todas as dúvidas sejam esclarecidas as conclusões serão de imediato dadas a conhecer ao mundo.
Entretanto, as autoridades brasileiras estudam medidas de punição para quem prevarique em situações deste tipo, perdendo nomeadamente, durante três anos, os apoios do Governo à criação de gado.
Lula da Silva disse ter explicado esta situação ao primeiro-ministro português, "não para o convencer mas para o informar, o que é logo meio caminho andado", tendo José Sócrates garantido que tomou "boa nota" das explicações dadas.
"Transmitirei agora à União Europeia todas as medidas que o Brasil tomo u para protecção dos consumidores. Aqui em Portugal gostamos da carne brasileira e esperamos que sejam tomadas todas as decisões para que possamos continuar a usufruir dela", garantiu José Sócrates.
Fonte: Confagri