O número de novos agentes patogénicos causadores de infecções humanas, cuja maioria é de origem animal, aumentou nos últimos 25 anos, um tendência considerada inquietante pelos epidemiologistas no contexto actual da gripe das aves.
A informação foi divulgada na conferência anual da Associação Americana para a Promoção da Ciência (AAAS), que decorreu no passado fim-de-semana em Saint Louis, estado norte-americano do Missouri.
Os peritos receiam que o vírus altamente patogénico H5N1 da gripe das aves sofra uma mutação e passe a transmitir-se facilmente de homem a homem.
Até agora foram registadas 169 infecções humanas de gripe das aves, 91 das quais mortais, todas elas provocadas por contactos com animais.
Nos últimos 25 anos foram isoladas e documentadas 38 novas espécies de agentes patogénicos responsáveis por infecções humanas, como o vírus da sida (VIH) ou da síndrome respiratória aguda (SRA), segundo Mark Woolhouse, investigador da Universidade de Edimburgo.
O mesmo perito citou também a versão humana da doença das vacas loucas, a encefalopatia espongiforme bovina (BSE), provocada por um prião (uma proteína).
Quase dois terços dessas 38 novas variedades são vírus ARN (ácido ribonucleico) dotados de um pequeno genoma e de uma taxa de mutação rápida, explicou este epidemiologista na conferência.
Estes vírus são diferentes dos 1.407 outros vírus, bactérias, protozoários e bolores conhecidos que podem provocar diversas infecções no homem, 58 por cento dos quais provêm de animais.
Os cientistas estimam que 177 destes agentes infecciosos estudados até agora são "novas estirpes" ou antigas que reaparecem e cuja maioria nunca provoca pandemias, sublinharam.
A esmagadora maioria dos agentes patogénicos contraídos pelo homem por contactos com os animais, incluindo os 38 recentes, "transmite-se muito dificilmente ou não se transmitem aos seres humanos".
Todavia, ao lutar para evitar a extinção, um agente patogénico esforça-se por se alterar geneticamente na população que infecta para poder transmitir-se.
"Nesta corrida, os vírus ARN, que evoluem rapidamente, têm as melhores hipóteses de ter êxito", explicou Mark Woolhouse.
O H5N1 não é um vírus ARN, mas partilha com estes a capacidade de fazer mutações muito rapidamente, mesmo durante uma única infecção, o que faz temer o pior às autoridades médicas mundiais.
"O mais chocante, adiantou o investigador, é a grande diversidade do reservatório infeccioso animal, que vai dos macacos e morcegos aos pássaros, passando pelos ratos e os outros mamíferos".
"É possível que um tal leque de fontes animais de infecção constitua em si própria um factor de risco na emergência destes novos agentes patogénicos", afirmou.
Na sua óptica, "a explicação mais lógica para o aumento do número destes novos agentes infecciosos em 25 anos é a amplitude da mudança na maneira como o homem evolui e age no ambiente, que o torna mais susceptível de os contrair e transmitir".
Relativamente ao aumento do número destes novos agentes infecciosos, Alan Barrett, epidemiologista da universidade do Texas, observou que as tecnologias actuais permitem detectar um número maior do que há 25 anos.
Mas, segundo Woolhouse, embora "tenhamos uma melhor compreensão dos mecanismos de transmissão de agentes patogénicos entre espécies, não somos ainda capazes de prever futuras ameaças de doenças infecciosas".
"Daí a importância de uma vigilância epidemiológica estreita a nível mundial", concluiu.
Fonte: Agroportal