Uma cultura geneticamente modificada (OGM) poderá existir perto de campos tradicionais sem ultrapassar o limiar de contaminação de 0,9 por cento e sem grande alteração nas práticas agrícolas, indica um estudo publicado sexta-feira em Bruxelas.
O estudo foi imediatamente denunciado pela organização ecologista Greenpeace.
U ma lei europeia de Abril de 2004 exige etiquetagem específica de OGM apenas quando a sua presença num produto for igual ou superior a 0,9 por cento.
Segundo o estudo, que deverá servir de base científica à política europeia em matéria de coexistência de sementes transgénicas e tradicionais, é possível fazer colheitas que respeitem o limiar de 0,9 por cento sem mudar substancialmente os métodos actuais, desde que a presença fortuita de OGM nas sementes não ultrapasse 0,5 por cento.
O estudo, coordenado pelo Centro Comum de Investigação da União Europeia (CRC), foi realizado em França com milho e beterraba açucareira, e na Andaluzia (Espanha) com algodão.
A investigação concluiu que só a cultura de milho precisa de precauções particulares, como a introdução de distâncias de separação entre os dois tipos de culturas ou a escolha de variedades OGM e não- OGM com períodos de floração diferentes.
O milho, de que a França é o maior produtor mundial, é actualmente a única espécie com exploração comercial de OGM na UE, essencialmente em Espanha, onde foram cultivados 58.000 hectares em 2004.
Mas para Eric Gall, conselheiro da Greenpeace, a conclusão do estudo é "contrária à legislação e enviesada a favor dos industriais e da indústria transgénica".
Na sua perspectiva, ao usar o limiar de contaminação de 0,9 por cento, o estudo "serve-se de forma enviesada da legislação europeia".
A abordagem do estudo "consiste em dizer que se pode contaminar os campos até 0,9 por cento. Mas tomar este limiar de eliminação da etiquetagem como uma autorização para contaminar até 0,9 por cento, não é de todo aceitável", considera Gall.
Este estudo "não constitui uma boa base para discutir medidas políticas de protecção contra uma contaminação por OGM", acrescentou.
A divulgação do estudo ocorreu nas vésperas da publicação pela Comissão Europeia de um relatório sobre as medidas tomadas no conjunto da UE para garantir uma coexistência eficaz entre culturas tradicionais e culturas transgénicas.
O relatório deverá inspirar debates que se anunciam acalorados entre os 25 durante uma conferência sobre os OGM marcada para 05 e 06 de Abril em Viena.
O encontro foi organizado pela Áustria, que assume até Junho a presidência rotativa da União e que é um dos países mais hostis da UE às culturas OGM.
Fonte: Confagri