A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou uma factsheet com os principais resultados de um estudo pioneiro desenvolvido em Portugal e na Arménia, que avaliou a exposição de mulheres grávidas e mães de crianças pequenas ao marketing de substitutos do leite materno e de alimentos para bebés.
Portugal destaca-se assim como um dos primeiros países da Região Europeia da OMS a testar uma nova ferramenta digital, que utiliza técnicas de inteligência artificial, para monitorizar o marketing digital dirigido a este grupo da população.
Os resultados específicos de Portugal já tinham sido divulgados na publicação Exposição de grávidas e mães portuguesas ao marketing de substitutos do leite materno e alimentação complementar.
Esta factsheet da OMS reforça a importância da monitorização da exposição de grávidas e mães de crianças pequenas ao marketing digital de substitutos de leite materno e de alimentos para bebés, uma vez que esta exposição tem sido apontada com um dos determinantes da baixa prevalência de aleitamento materno exclusivo até aos 6 meses. A evidência mostra ainda que estes tipos de produtos, amplamente publicitados, sobrevalorizam o seu papel na alimentação das crianças.
Principais resultados
Portugal e Arménia apresentam contextos nacionais diferentes no que respeita ao aleitamento materno, sendo que a Arménia apresenta uma taxa de aleitamento materno exclusiva até aos 6 meses superior a Portugal, com quase metade dos bebés (45%) a serem amamentados em exclusivo durante o período recomendado pela OMS, contra apenas 22% em Portugal. Para além disso, os dois países apresentam, um contexto jurídico distinto relativamente a esta temática, sendo que a Arménia tem um enquadramento legal mais alinhado com o Código Internacional do Marketing aos Substitutos do Leite Materno do que Portugal.
No que diz respeito aos resultados do presente estudo observa-se que, em ambos os países (Portugal e Arménia) e nas categorias avaliadas, o marketing digital era utilizado maioritariamente para publicitar alimentos para bebés. Relativamente ao marketing aos substitutos de leite materno, identificou-se publicidade a diferentes fórmulas infantis em ambos os países.
Este estudo revela ainda que, em Portugal, são os snacks que ocupam o topo das categorias mais frequentemente promovidas a grávidas e mães (31%), seguidas dos cereais de pequeno-almoço e papas (23%). Na Arménia, os tipos de produtos identificados foram também cereais com leite de vaca ou cabra ou sem leite, purés de fruta ou hortícolas, bolachas para bebés, bolachas de chocolate, entre outros. Na Arménia, não foi possível realizar a quantificação dos anúncios individualmente para cada categoria.
Da análise efetuada, destaca-se ainda a presença de alegações nutricionais e de saúde ou de outras menções nos rótulos destes produtos, que podem contribuir para a sobrevalorização dos mesmos face ao leite materno e face aos produtos menos processados destinados à alimentação infantil, podendo levar a um abandono precoce do aleitamento materno em favor deste tipo de produtos.
Em Portugal, observou-se ainda que 74% dos alimentos para bebé identificados não cumpria o Nutrient and Promotion Profile Model definido pela OMS, que é frequentemente utilizado para balizar as características nutricionais de alimentos a serem caracterizados como saudáveis.
No que diz respeito ao tipo de plataforma utilizada para o marketing digital das categorias de produtos em análise, foram avaliadas publicidades veiculadas em quatro redes sociais: Facebook, Instagram, TikTok e Youtube. A rede social Instagram ocupa uma posição de destaque como canal da publicidade, representando quase dois terços dos anúncios (64%) a substitutos do leite materno e de alimentos para bebés em Portugal. Por sua vez, na Arménia, é o Facebook que se destaca como rede social predominante, sendo veículo de cerca de 70% dos anúncios a estes tipos de produtos.
Este estudo, realizado em Portugal e na Arménia, destaca-se pelo seu carácter inovador no que respeita à recolha de dados de monitorização direta ao conteúdo publicitado diretamente a grávidas e mães de crianças pequenas, através dos seus dispositivos móveis e através de técnicas de inteligência artificial. Os seus resultados reforçam a necessidade de se monitorizar e regular o marketing alimentar em plataformas online e redes sociais dirigido a grupos populacionais mais suscetíveis, como grávidas e mães de crianças pequenas.