A legislação portuguesa não contempla nenhuma obrigatoriedade de existência de uma reserva estratégica de matérias-primas alimentares.
Portugal tem reservas de cereais para alimentação humana “para cerca de um mês e meio a dois meses”, adianta Eduardo Dinis, diretor-geral do Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP) do Ministério da Agricultura, numa altura em que se volta a falar de escassez de matérias-primas provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia, dois dos principais produtores mundiais de cereais.
Isto, segundo o mesmo responsável, apesar de não haver nenhuma obrigatoriedade legal para a existência de uma reserva estratégica de matérias-primas alimentares, a nível nacional.
No entanto, explica Eduardo Dinis, os importadores de cereais estão a negociar com os proprietários dos silos – nomeadamente os que existem na Trafaria e Beato (junto ao Tejo, em Lisboa), em Aveiro e Leixões -, a possibilidade de utilização dos mesmos por períodos mais prolongados que o habitual, para permitir aumentar, de certa forma, o nível de segurança alimentar do país.
Este cenário de segurança de abastecimento volta a ganhar uma importância acrescida numa altura em que o preço do milho, por exemplo, atinge máximos de nove anos, tendo sido negociado esta segunda-feira a 750 dólares por tonelada nos mercados internacionais , segundo dados avançados ao Expresso por Nuno Mello, da consultora XTB.
Cotação do trigo suspensa devido a elevada volatilidade
Já o trigo – que serve de base ao fabrico de pão – continua com a sua cotação suspensa, há mais de uma semana, “devido à elevada volatilidade a que ficou sujeito desde o inicio da guerra na Ucrânia”, nota aquele analista.
Com os portos ucranianos fechados e os operadores relutantes em comercializar trigo russo em face das sanções financeiras ocidentais, os compradores tentam agora encontrar fornecedores alternativos.
Recorde-se que a Rússia e a Ucrânia juntas respondem por cerca de 29% das exportações globais de trigo e 19% das exportações de milho.
O problema da escassez começa a ganhar contornos globais e o Presidente chinês, Xi Jinping, pediu esta segunda-feira que o fornecimento alimentar, particularmente de cereais, seja a “principal prioridade” das autoridades, segundo a agência noticiosa oficial Xinhua.
China preocupada com alimentação das populações
Xi assegurou que a população chinesa, composta por mais de 1,4 mil milhões de pessoas, está “bem alimentada”, mas apelou para que a questão do fornecimento alimentar “não seja descurada”, durante uma reunião com membros da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, uma espécie de senado, sem poderes legislativos, cuja sessão anual está a decorrer em Pequim.
A nível europeu, volta a discutir-se também a questão da segurança de abastecimento e a importância dos níveis de autossuficiência.
As associações de produtores pediram já também à Comissão Europeia – em carta enviada no final da semana passada a Bruxelas – que se reconsidere a possibilidade de importação de cereais tanto dos Estados Unidos, como do Brasil e da Argentina, apesar de muitas das produções ali garantidas serem feitas com base sementes modificadas do ponto de vista genético, algo que a UE não permite.
Fonte: Expresso