A Waste and Resources Action Programme (WRAP), uma organização não governamental, destacou na Conferência de Alterações Climáticas (COP29), no Azerbeijão, a urgência de incluir o desperdício de alimentos nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) dos países, uma medida essencial, mas largamente negligenciada, para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e combater a crise climática. Segundo um novo relatório , 88% dos países presentes na conferência não incluíram metas para reduzir o desperdício e a perda de alimentos nos seus compromissos climáticos.
O relatório mostra que, dos 195 países representados, apenas 24 (12%) se comprometem a combater a perda e o desperdício de alimentos, enquanto 88% dos NDC não contemplam medidas para abordar o problema. Harriet Lamb, CEO da WRAP, alertou: “o nosso sistema alimentar tem grandes falhas e destrói o ambiente. Se o desperdício de alimentos fosse um país, seria o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, superado apenas pela China e pelos Estados Unidos”. O desperdício de alimentos contribui para 8% a 10% das emissões globais, cinco vezes mais do que a aviação.
A WRAP também alerta para os efeitos do desperdício de alimentos na sociedade e na economia global. Estima-se que a perda e o desperdício de alimentos custem cerca de 936 mil milhões de dólares por ano. Enquanto isso, mais de 783 milhões de pessoas enfrentam a fome, e um terço da população mundial está em insegurança alimentar. Segundo a WRAP, a redução de desperdício de alimentos poderia reforçar a segurança alimentar e ajudar a combater a mudança climática, criando um sistema alimentar mais sustentável.
A WRAP diz mesmo que cerca de 30% de todos os alimentos vão para o lixo todos os anos, prevendo-se que a perda e o desperdício de alimentos atinjam 2,1 mil milhões de toneladas por ano até 2030, representando um valor de 1,5 mil milhões de dólares. De facto, o Food Waste Index Report (2024), compilado pelo Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP) em coautoria pela WARP, revela que o mundo desperdiça anualmente mais de mil milhões de toneladas de alimentos (um quinto de todos os alimentos disponíveis para os consumidores a nível do retalho, dos serviços alimentares e dos agregados familiares). A FAO diz ainda que este valor acresce aos 13% perdidos na cadeia de abastecimento.
Além disso, Harriet Lamb enfatiza que enfrentar o desperdício de alimentos é um passo fundamental para uma economia circular. “Alimentos, têxteis e produtos manufaturados representam quase metade das emissões globais de gases de efeito estufa. Adotar uma economia circular é essencial para combater esses grandes emissores, e essa mudança deve ser abraçada em todas as empresas e lares”.
A inclusão do desperdício alimentar nas NDC pode fortalecer o compromisso global na luta contra a crise climática, enquanto promove um uso mais eficiente e ético dos recursos alimentares.
Fonte: iALIMENTAR