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Empresa portuguesa cria "ovo" 100% vegetal que substitui ovo tradicional
2022-04-26

Daniel Abegão criou um "ovo" vegetal que com o mesmo sabor e valor nutricional do original da galinha. A empresa planeia colocar o produto à venda dentro de seis meses nos mercados nacional e internacional. Palhinhas comestíveis, produzidas a partir de algas marinhas é o próximo desafio.

Uma empresa portuguesa da área da investigação e desenvolvimento alimentar criou um "ovo" 100% vegetal, que pode ser usado na alimentação ou na indústria pasteleira, mantendo o sabor e o aroma do ovo tradicional das galinhas.

“Mimetiza o ovo, no seu sabor, no seu aroma, na sua nutrição. Conseguimos criar um produto 100% a partir de extractos vegetais, que faz "ovos" mexidos deliciosos, faz boas "omeletes" e tem utilização em padaria e pastelaria”, revelou Daniel Abegão, administrador e responsável técnico do CFER – Centre for Food Education e Research, localizado em Alcobaça, distrito de Leiria.

Criado a partir da soja – planta que possui “propriedades físico-químicas que lhes permitem substituir o ovo e imitá-lo, também em termos da sua forma de confecção” - incorpora outros extractos vegetais, resultando num produto “que parece ovo, cheira a ovo, sabe a ovo, mas que não é ovo”, explicou.

“Permite dar ao consumidor final, seja vegetariano ou apenas adepto de uma alimentação mais saudável e mais sustentável, um produto semelhante ao ovo e que não vai, de certeza absoluta, deixar saudades do ovo original da galinha”, afiançou o investigador.

Numa íngreme rua do centro da cidade, com vista para as torres do Mosteiro de Alcobaça, ficam as actuais instalações do CFER, concretamente os escritórios e o espaço de investigação, este um misto de laboratório científico e cozinha lá de casa, onde não falta um frigorífico, máquina de lavar e, claro, um fogão.

Durante a visita, coube ao microbiólogo João Peça a função de chef de serviço na confecção de "ovos" mexidos a partir do "ovo" líquido vegetal, que, pôde-se atestar, tinham uma textura e um sabor tal e qual os originais.

O "ovo" vegetal ainda não está no mercado, mas, segundo Daniel Abegão, estará “ainda no primeiro semestre deste ano”, depois de “mais de cinco anos de investigação e desenvolvimento”.

“Estamos, neste momento, a terminar a implementação industrial do projecto [em fábricas parceiras com as quais o CFER trabalha], a estudar os últimos detalhes técnicos, para o lançarmos muito em breve no mercado nacional e internacional”, revelou o responsável técnico, formado na Universidade de Coimbra em bioquímica e química industrial.

O "ovo" vegetal tem já clientes interessados na Europa, em África e nos EUA e Brasil. “Acreditamos que vai, certamente, ter muito sucesso, pelo trabalho que deu a desenvolver, e para conseguirmos ter um produto final estável e saboroso”, notou.

“E esperamos que as pessoas consigam perceber que há uma mais-valia em comprar este "ovo", sejam vegetarianos ou não vegetarianos. É tudo uma perspectiva de uma alimentação mais saudável e um estilo de vida mais sustentável”, acrescentou Daniel Abegão.

O "ovo" 100% vegetal está enquadrado num projecto do CFER em biotecnologia alimentar denominado Plantalicious, onde a empresa desenvolve a sua própria investigação e coloca o produto no mercado, recorrendo a marcas próprias.

“A ideia partiu de uma constatação, através da indústria alimentar, de que há uma grande tendência a nível mundial, que é a substituição das proteínas animais através de uma base vegetal. A nossa vontade era criar algo que substituísse o ovo, que é um produto que, muitas vezes, não está no centro da investigação na área da substituição alimentar.”

No painel de desenvolvimento de novos produtos relacionados com o "ovo" vegetal, estão "ovos" estrelados ou escalfados – actualmente o "ovo" líquido não o permite, por não separar a gema da clara – ou "ovos" mexidos e "omeletes" “já prontos a consumir”, revelou o investigador.

Em fase de desenvolvimento está também um novo produto: palhinhas comestíveis, produzidas igualmente a partir de extractos vegetais, aqui com a incorporação do meio marinho, através de algas.

“Os plásticos de uso único exclusivo, para depois serem descartados no lixo, foram proibidos nos últimos anos. Identificámos tanto uma oportunidade de negócio nessa área, como uma oportunidade de criarmos inovação”, frisou, aludindo à palhinha “que parece plástico, mas não é à base de plástico” e é comestível, reciclável e “economicamente viável”.

Para além do desenvolvimento próprio, a empresa de Alcobaça, onde trabalham oito pessoas, tem também tem uma componente de prestação de serviços – o Reino Unido é o mercado principal, e, para além de Portugal, possui parcerias e contratos com clientes europeus em Espanha, França, Alemanha, Irlanda e Suécia, africanos de Angola, Cabo Verde e Senegal ou com empresas norte-americanas e brasileiras – onde, também com base nas ideias dos clientes, o conceito é desenvolvido “até ao produto final e entregue, ‘chave na mão’ no armazém do cliente”, sustentou Daniel Abegão.

“O produto é idealizado da forma que o cliente pretende e nós conseguimos entregá-lo através do nosso trabalho de investigação científica.”

Por junto, a actividade principal do CFER é a alimentação saudável: “bebidas saudáveis, molhos saudáveis, refeições prontas mais saudáveis, iogurtes, lacticínios, queijos e também suplementos [alimentares], a nossa empresa desenvolve e fá-lo sempre da perspectiva de alimentação saudável, de forma que o consumidor possa ter acesso a um produto cada vez com maior valor acrescentado.”

Os produtos, observou, têm menos gorduras e são alimentos fornecidos através de uma cadeia de valor “cada vez mais transparente, clara e justa e com menos ingredientes que, reconhecidamente, são prejudiciais para o consumo humano”.

O responsável técnico do CFER não tem dúvidas de que, com o contributo da ciência e da junção de conhecimentos em áreas como a nutrição, bioquímica alimentar, engenharia ou química industrial, entre outras, é possível criar “um bom produto final, competitivo, tecnicamente correcto, que seja também saboroso e bom para o consumidor em termos de saúde”.

Fonte: Público e Qualfood

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