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Resina feita a partir de resíduos de tomate pode substituir epóxi nas embalagens metálicas
2023-06-22

Uma equipa internacional de especialistas, liderada por investigadores do Instituto de Horticultura Subtropical e Mediterrânica La Mayora (IHSM-CSIC-UMA), em Málaga, e do Instituto de Ciências dos Materiais de Sevilha (ICMS-CSIC-US), localizado no Parque Científico e Tecnológico de Cartuja, em Sevilha, desenvolveu resinas de bagaço de tomate para revestir o interior de embalagens metálicas para alimentos, conservas e bebidas, entre outros.

Para esse efeito, reutilizaram subprodutos do tomate, como sementes, peles e pequenos restos de ramos, resultantes da produção de gaspacho, molhos ou sumos. Atualmente, o bagaço de tomate é eliminado como resíduo sólido, queimado, ou, numa pequena proporção, utilizado como alimento para animais.

Biológica e inócua, a resina desenvolvida pelos investigadores repele a água, adere firmemente ao metal da lata que reveste e tem propriedades anti-corrosão contra o sal e qualquer líquido. Após testes em alimentos simulados, o próximo passo é testar a sua eficácia em latas e recipientes contendo alimentos reais e avaliar a sua aplicação industrial.

A investigação deu origem a um estudo, intitulado ‘Bio-based lacquers from industrially processed tomato pomace for sustainable metal food packaging’, publicado no Journal of Cleaner Production e no qual participam também investigadores da Universidade de Málaga, da Universidade de Sevilha, do Instituto Italiano de Tecnologia e da Universidade Politécnica de Marche.

O objetivo é reutilizar um produto residual, o bagaço do tomate, como matéria-prima para outros bens, neste caso latas e outras embalagens alimentares. “Partindo de um resíduo, obtemos uma matéria-prima ecológica e sustentável, com um impacto ambiental muito baixo, uma vez que reduzimos a geração de resíduos e, ao mesmo tempo, minimizamos a extração de recursos fósseis para o fabrico desses mesmos recipientes”, explica à Fundação Descubre Alejandro Heredia, investigador do Instituto de Frutas e Legumes Subtropicais e Mediterrânicos 'La Mayora'.

Atualmente, o aço e o alumínio são os principais materiais utilizados no fabrico de embalagens metálicas. Em contacto com os alimentos, estes podem corroer o metal, contaminando assim os alimentos conservados. Para evitar que isso aconteça, o interior destes recipientes é revestido com uma camada muito fina de resina epóxi que protege o metal da corrosão. Este um plástico à base de petróleo que contém bisfenol A, mais conhecido como BPA. Trata-se de um composto químico industrial que protege os alimentos mas, ao mesmo tempo, liberta partículas que interferem com a saúde humana. “O BPA é semelhante aos estrogénios, ou seja, passa para os alimentos como um disruptor endócrino, tal como as hormonas, e está associado ao aparecimento de doenças como o cancro, a diabetes e problemas de crescimento em bebés e adolescentes”, diz Heredia.

Laca hidrofóbica, aderente e anti-corrosiva

Para obter esta nova resina, os especialistas deixaram secar as amostras de bagaço de tomate e submeteram-nas a um processo de hidrólise, ou seja, retiraram a água que restava e ficaram com os lípidos, neste caso a gordura vegetal.

Uma vez retirada a parte gorda, misturaram-na com uma proporção mínima de etanol, um composto orgânico conhecido como álcool etílico. “Dispersámos a amostra em cerca de 80% de água e 20% de etanol. Esta dispersão de gordura em água é pulverizada diretamente sobre a superfície metálica a proteger. Desta forma, fica impregnada no metal, adere à lata e resiste a cortes subsequentes no recipiente”, explica o responsável pelo estudo.

Para conseguir a união das moléculas da mistura e obter a resina, os especialistas aplicaram calor. “Submetemos o verniz a uma temperatura de 200 graus durante um período de tempo muito curto, entre 10 e 60 minutos, e foi assim que obtivemos a resina”, diz Heredia.

Em conclusão, os especialistas verificaram que a resina de bagaço de tomate é hidrofóbica, ou seja, repele a água. Além disso, tem uma elevada capacidade de aderência ao metal da lata que reveste. Se o recipiente cair, for batido ou sofrer um impacto durante o transporte, por exemplo, num camião de entregas, a resina atua como uma barreira protetora entre o alimento e o metal", afirma o investigador de La Mayora.

Para além destas qualidades, tem também uma elevada capacidade anti-corrosão contra o sal e qualquer líquido. “Os compostos desta laca não passam para os alimentos e, por conseguinte, não contaminam o produto contido na lata, como acontece com a resina BPA”, explica Heredia.

Testes com alimentos simulados

Para corroborar todas estas propriedades, os especialistas realizaram testes com simuladores de alimentos, tal como estabelecido pela regulamentação da União Europeia para os plásticos em contacto com os alimentos. “Utilizamos produtos que imitam o comportamento de um grupo de alimentos com características semelhantes. Por exemplo, usamos soluções de etanol como se fossem sopas, óleos como se fossem cremes e polímeros absorventes como se fossem alimentos secos”, diz Heredia.

Para além de identificarem as características da resina de bagaço de tomate como revestimento para o interior das embalagens, os especialistas avaliaram o impacto ambiental do fabrico desta resina.

Para isso, analisaram todo o processo de fabrico, desde a extração da matéria-prima, a produção do verniz e a sua utilização final. Também compararam estes resultados com o mesmo processo se for utilizada a resina BPA e o que acontece se o bagaço de tomate for eliminado, queimando-o diretamente na indústria. “Esta análise mostra que a obtenção da resina a partir do bagaço de tomate produz menos dióxido de carbono do que o BPA. E no caso de não utilizar o bagaço de tomate e eliminá-lo por queima, a poluição que produz também é maior do que reutilizá-lo como resina”, diz Heredia.

Paralelamente, também identificaram e quantificaram os efeitos que a produção desta resina tem na saúde humana. “Os níveis de impacto são baixos em comparação com a incidência do uso de BPA em produtos do quotidiano”, adverte o investigador de La Mayora.

Depois dos testes com simuladores de alimentos, o próximo passo é testar a reação da resina com alimentos reais, nomeadamente, molho de tomate e de atum.

Fonte: iAlimentar

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