Um responsável da Direcção-Geral de Saúde (DGS) disse ontem, em Coimbra, que uma pandemia de gripe das aves "entrará mais tarde ou mais cedo em Portugal", obrigando as autoridades a restringir alguns direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.
"Numa situação extrema, há alguns valores constitucionais que terão que ser limitados", alertou Mariano Ayala, da DGS, ao apresentar o Plano de Contingência de resposta do Ministério da Saúde a uma eventual pandemia de gripe no país.
Para defrontar uma grande epidemia (pandemia), advertiu, cabe ao Estado criar um "sistema robusto e rápido" com vista a informar diariamente as pessoas e que "não permita a difusão de boatos".
"Precisamos de um mecanismo de vigilância verdadeiramente fiável para controlar a entrada do vírus no país", disse Mariano Ayala, ao intervir no Fórum Luso-Espanhol para Apresentação dos Planos de Contingência para uma Eventual Pandemia de Gripe nos dois países ibéricos.
Numa situação de crise, os motoristas de camiões TIR, por exemplo, serão considerados um "grupo prioritário" na intervenção das autoridades sanitárias.
O representante da DGS defendeu a necessidade de criar "uma estrutura única de comando para defrontar a pandemia", à semelhança da opção tomada este ano pelo Governo na área da prevenção e combate aos incêndios florestais.
O reforço da capacidade laboratorial, com a "definição e operacionalização do uso de testes de diagnóstico rápido" e com o adequado "fornecimento e armazenamento de reagentes", designadamente, foi outras das medidas preconizadas.
"Nem toda a febre será gripe pandémica", advertiu, realçando o carácter preventivo do Plano de Contingência, que implica a existência de planos regionais e de "milhares de planos das instituições" locais.
A propósito de três cenários apresentados na sessão, no auditório da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, no âmbito de um estudo para uma eventual pandemia de gripe em Portugal, Francisco George, subdirector-geral de Saúde, apelou aos órgãos de comunicação para divulgarem os alertas da DGS e evitarem "lançar alarmes" na opinião pública.
O mais negativo daqueles três cenários, explicados por Baltazar Nunes, do Observatório Nacional de Saúde (do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, INSA), refere-se a uma situação hipotética em que poderiam morrer 11 mil pessoas, caso não fossem tomadas antes as medidas preventivas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Estes cenários, que na próxima semana serão transpostos para o site do INSA, visam, no entanto, uma "reflexão interna" dos responsáveis da Direcção-Geral de Saúde, advertiu Francisco George.
No estudo apresentado por Baltazar Nunes, o pior cenário, para uma duração máxima de 20 semanas da pandemia, corresponde a uma "taxa de ataque" de 35% da população portuguesa (cerca de 3,6 milhões de pessoas).
Nesta projecção, o número de consultas seria de 1,9 milhões e as hospitalizações ascenderiam a 46.500.
Cada um dos três cenários reflecte diferentes níveis de gravidade de uma eventual pandemia, que poderia causar 7.975, 9.571 ou 11.166 mortos, respectivamente.
Ministro da Saúde afasta cenário de perigo
O ministro da Saúde desdramatiza a compra de medicamentos para combater uma eventual epidemia da gripe das aves. Ontem de manhã, o secretário de Estado da saúde revelou que o Governo encomendou dois milhões e meio de doses do medicamento.
«O vírus continua sossegadinho do sudoeste asiático, mas pode eventualmente vir a sofrer uma mudança», realçou, justificando assim a encomenda dos medicamentos.
Portugal encomendou os medicamentos, em resposta aos repetidos alertas da Organização Mundial de Saúde, perante o risco do vírus poder começar a ser transmitido entre seres humanos.
«Por exemplo, em Hong Kong a epidemia foi rapidamente controlada porque eles tinham um sistema muito organizado. Mas nem todos os países têm essa capacidade, e por isso é que nós preferimos prevenir», sublinhou o ministro Correia de Campos.
OMS Mantém Nível de Alerta
A Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou ontem que vai manter o nível de alerta referente à gripe das aves asiática, na sequência do relatório produzido por uma equipa de peritos, enviada pela agência das Nações Unidas ao Vietname, na semana passada.
O grupo de especialistas, vindos da Austrália, Canadá, Hong Kong, Japão, Reino Unido e EUA, recolheram dados epidemiológicos e laboratoriais sobre casos recentes de infecção pelo vírus H5N1, concluíram que «não existem provas laboratoriais que sugiram que os casos de infecção humana estão a ocorrer com maior frequência ou que o vírus se está a propagar entre as pessoas».
Mesmo sem provas laboratoriais que apontem para uma alteração no comportamento do vírus H5N1, a OMS decidiu manter o nível de alerta sobre a ameaça de uma pandemia.
De acordo com um comunicado de imprensa divulgado ontem pela agência, «a descoberta de provas definitivas sobre o aumento da transmissão implicaria a passagem para um nível de alerta pandémico superior». No entanto, e tendo em conta as «enormes consequências de tamanha mudança», a OMS informa estar a seguir uma abordagem cautelosa, «combinando vigilância apertada sobre novos casos com a verificação internacional de qualquer tipo de conclusões».
Fonte: TSF, Lusa, Diário de Notícias e Confagri