O único inquérito aos hábitos alimentares dos portugueses foi realizado em 1980 e um novo projecto de avaliação da nutrição nacional está há vários anos a aguardar financiamento.
O inquérito pretende "estudar a associação entre consumos de alimentos e nutrientes a nível nacional por regiões, sexo, grupos etários e sócio-económicos" analisando "alguns factores de risco de doenças crónica".
O projecto para um novo inquérito permaneceu anos à espera de financiamento no Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA).
No início deste ano, antes das eleições antecipadas de 20 de Fevereiro, o ex-ministro da Saúde Luís Filipe Pereira emitiu um despacho para dar "luz verde" ao projecto, a que atribuiu uma verba de 200 mil euros para o seu arranque, alegando que "não queria comprometer os seu sucessor".
Esta verba é considerada insuficiente por Fernando Almeida, director do INSA, que prevê que o projecto possa custar, "no mínimo, 10 milhões de euros".
Fernando Almeida realça que já estão a decorrer negociações com o Instituto Nacional de Estatística (INE) e a Agência Portuguesa para a Segurança Alimentar, mas, para que este projecto se realize, "é necessário o envolvimento de mais ministérios", nomeadamente os da Agricultura e Economia.
O INSA vai delinear e controlar o inquérito, cabendo ao INE a parte operacional, que envolverá no trabalho de campo "pessoas com alguns conhecimentos e formação na área de nutrição".
A realização de um inquérito desta dimensão sofreu também uma barreira na Assembleia da República no ano passado, quando um projecto de resolução do Partido Ecologista Os Verdes, para desbloqueamento das verbas necessárias, foi rejeitado pela maioria PSD/PP, a 07 de Outubro.
Com a mudança de governo, os Verdes voltaram a apresentar um novo projecto de resolução em Maio, que ainda não foi agendado.
O principal argumento usado até agora para justificar a desnecessidade de um inquérito deste género "é o de que o INE elabora a Balança Alimentar Portuguesa, que estima os consumos médios diários".
No entanto, tanto Fernando Almeida como Amorim Cruz, especialista do Centro de Estudos da Nutrição do INSA que em 1980 participou no primeiro inquérito (coordenado pelo ex-ministro da Saúde Gonçalves Ferreira), contestam esta tese "notando que as balanças alimentares não dão conta dos consumos a nível individual nem da forma como são confeccionados os alimentos, dado que são uma capitação dos produtos alimentares adquiridos".
Amorim Cruz adiantou ainda que nos últimos 15 anos apresentou várias propostas para a realização de novo inquérito, sempre sem sucesso, e lamenta que Portugal não tenha dados actualizados nesta matéria, "apesar de terem ocorrido modificações sócio-económicas profundas no país".
"Os governos ignoram completamente o Conselho Nacional de Nutrição", um órgão interministerial de consulta do governo criado em 1980, que "não funciona na prática", critica Amorim Cruz.
O director do Instituto Nacional Ricardo Jorge (INSA) que por inerência é presidente deste órgão, concorda com o especialista, mas acrescenta que "o conselho vai ser reformulado em breve".
Fonte: Lusa e Confagri