Desvalorizada nos últimos anos e com pouca procura, a carne dos animais de raça brava está em vias conquistar um novo lugar nas preferências gastronómicas nacionais.
É, pelo menos, este o objectivo do APBRB - Agrupamento de Produtores de Bovinos de Raça Brava, associação constituída em Maio e responsável pelo pedido de certificação desta carne junto do Ministério da Agricultura, com vista à sua posterior classificação por Bruxelas como produto com denominação de origem protegida.
Fernanda Dias, engenheira de ciências agrárias, que tem coordenado este processo explica que «pedimos a qualificação para o produto “Carne de Bravo do Ribatejo”, para o qual solicitamos também o registo como denominação de origem, além de temos já registada uma imagem comercial».
O trabalho a desenvolver passa agora, também, pela divulgação do produto. «Estamos a começar pela abordagem da restauração, procurando implementar novas receitas e divulgar as peças menos valorizadas destes animais - como os ossobucos, as abas, os pojadouros, etc -, para posteriormente tentarmos a sua comercialização nas grandes superfícies», embora nunca antes do prazo de um ano, acrescenta Fernanda Dias.
Uma estratégia publicitária para apoiar o reconhecimento da marca é outra das iniciativas no horizonte.
Inverter hábitos de consumo pode, no entanto, ser tarefa complicada. «Esta carne tem sido sempre mal vista, o que deriva das próprias condições de abate», avalia Fernanda Dias. «Quando um toiro é lidado numa corrida, o período que decorre até à sua morte no matadouro ultrapassa actualmente as 24 horas, o que tem consequências óbvias no aspecto e qualidade final da carne. Mais negras, menos tenras, as peças valem menos e, de facto, o mercado para a sua colocação é muito restrito».
Cada animal destes não valerá mais de 100 euros, tabela válida também para as novilhas rejeitadas pelas ganadarias após as tentas (provas no campo que testam a sua bravura e determinam a sua manutenção como reprodutoras).
Parte importante deste processo de certificação da carne brava é a alteração das regras de abate e de comércio em vigor, pretendendo este agrupamento que a morte dos animais de raça brava passe a ocorrer imediatamente após a sua lide.
De resto, Fernanda Dias considera que esta é uma carne com inúmeras vantagens: «Tem para oferecer uma garantia de proveniência, com um maneio alimentar e produtivo exclusivamente extensivo, sendo nosso objectivo oferecer uma carne de qualidade superior a um preço justo».
O garfo e a faca estão nas mãos do consumidor, a quem cabe uma palavra final.
Fonte: Expresso