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A conservação de alimentos sem embalagens de plástico, cada dia mais perto
2023-11-10

Uma equipa de investigadores da Universidade Politécnica de Valência trabalha no desenvolvimento de novos materiais biodegradáveis que garantam a conservação dos alimentos e que possam significar o fim das embalagens de plástico tradicionais utilizadas para os produtos de alimentação. Fruto destas investigações, foram desenvolvidas películas biodegradáveis que funcionam na conservação de carne de porco ou pacotes monodose de óleo de girassol produzidos com extratos de palha de arroz.

Segundo fontes da UPV, o setor do embalamento de alimentos é um dos maiores consumidores de plástico não degradável. A sua utilização permite garantir a correta conservação dos alimentos, prolongar a vida útil dos mesmos e reduzir as perdas ao longo da cadeia alimentar, mas também provoca um importante problema de poluição ambiental.

O desafio ambiental

Para enfrentar este desafio, além de fomentar o consumo responsável e a reciclagem, uma solução passa por substituir as embalagens plásticas convencionais por materiais biodegradáveis, que podem ser compostados juntamente com os resíduos alimentares.

Além disso, a incorporação de compostos ativos no material da embalagem pode proporcionar-lhe propriedades adicionais, como uma elevada capacidade antioxidante e/ou antimicrobiana. E isto favorece, justamente, que os alimentos embalados se conservem melhor e a vida útil dos mesmos seja mais longa, reduzindo assim o impacte ambiental das embalagens tradicionais.

Dentro deste campo, uma equipa do Instituto de Engenharia dos Alimentos para o Desenvolvimento da UPV, liderada pela Dr.ª Amparo Chiralt, estuda como diferentes compostos de origem natural, com comprovada atividade antioxidante e antimicrobiana, podem ser incorporados em matrizes poliméricas biodegradáveis com natureza hidrofílica (como o amido) e hidrofóbica (como os poliésteres biodegradáveis) para obter materiais ativos para o embalamento.

Materiais que atuam contra a oxidação

Para garantir a função conservante do material, estes compostos devem ser libertados no alimento de forma controlada, atuando contra os microrganismos potencialmente presentes ou interferindo nos processos oxidativos.

No grupo de investigação da UPV estão a utilizar ácidos fenólicos, presentes em muitos vegetais, com atividade antimicrobiana, antioxidantes e outras benéficas para a saúde, na conceção de materiais ativos biodegradáveis para o embalamento de alimentos.

Nos seus estudos, verificaram que o tipo de polímero (hidrofílico ou hidrofóbico) afeta de forma muito relevante a libertação e eficácia dos compostos ativos em contacto com alimentos aquosos, que são os mais sensíveis à deterioração microbiana.

Verificaram também que os poliésteres biodegradáveis, com baixa afinidade com a água, não libertam de forma eficaz os compostos ativos; e que os polímeros hidrofílicos libertam os compostos ativos de forma eficaz, quando hidratados através do contacto com alimentos, mas, com a hidratação, perdem a capacidade de barreira e a resistência mecânica adequadas.

A obtenção de película multicamada biodegradável com uma camada ativa para o contacto alimentar é uma solução para potenciar o embalamento sustentável e ecológico dos alimentos, combinando biopolímeros hidrofílicos e hidrofóbicos, assinalam estes especialistas.

Testado com sucesso para a conservação de carne

Diferentes trabalhos do grupo mostram a eficácia do laminado de película biodegradável com propriedades complementares, com ácidos fenólicos ou extratos vegetais ricos nestes compostos, com elevada capacidade antioxidante e antimicrobiana.

Entre outros resultados, os materiais desenvolvidos a partir dos laboratórios da UPV permitiram prolongar a vida útil da carne de porco embalada nestes laminados, com um elevado nível de conservação dos parâmetros de qualidade e segurança microbiológica.

Também desenvolveram pacotes monodose com extratos ativos obtidos da palha de arroz para o embalamento de óleos insaturados, como o de girassol, que permitem protegê-los dos processos oxidativos.

Estes resultados demonstram que os polímeros biodegradáveis têm elevado potencial para obter soluções sustentáveis e ecológicas para o embalamento de alimentos, utilizando também resíduos agroalimentares como fonte de compostos ativos ou materiais de reforço (celuloses) para melhorar a sua funcionalidade e competitividade no mercado.

No entanto, um grande desafio pendente, acrescentam desde a UPV, é o aumento de sua produção e a redução do custo, e a adequação das suas propriedades aos requisitos do embalamento de alimentos, que são muito diferentes para os diversos tipos de alimentos, em função da sua composição e sensibilidade à deterioração.

Fonte: iAlimentar

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