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Cortiça "condenada" a desaparecer pelos plásticos
2004-10-20

De componentes para naves espaciais a guarda-chuvas e carteiras, passando pelas tradicionais rolhas, a cortiça tem cada vez mais aplicações, no entanto a sua utilização está “condenada” no futuro, alerta a co-autora do primeiro livro científico sobre a matéria, Emília Rosa.

Segundo Emília Rosa, professora do Instituto Superior Técnico e co-autora da obra “A Cortiça”, a utilização desta matéria-prima está cada vez mais ameaçada, uma vez que só é produzida nos países mediterrâneos, o que leva os restantes estados a optar progressivamente pela sua substituição por plástico e outros materiais, de forma a reduzir os gastos com a importação.

“A cortiça está condenada a médio prazo porque convém a vários países que a sua utilização seja substituída e, por isso, tem-se investido cada vez mais noutros materiais, como as rolhas de plástico”, refere a professora.

Apesar de Portugal deter 54% do mercado e um volume de exportações que ascende a 890 milhões de euros, fazendo do país o maior produtor mundial de cortiça, a especialista lamenta que pouco esteja a ser feito para inverter a tendência internacional de substituir este material.

Emília Rosa refere que “o país não está a fazer o suficiente para salvaguardar e proteger a cortiça, nem ao nível dos apoios à investigação, nem ao nível dos apoios à produção”.

A professora considera ainda que Portugal não está a investir em acções de marketing que evidenciem as vantagens da cortiça, nomeadamente o facto de se tratar de um produto natural que não tem toxicidade nem consequências ambientais, ao contrário de outros materiais usados muitas vezes em sua substituição como o plástico ou o esferovite.

Emília Rosa considera que, se nada for feito, as rolhas de cortiça – a maior aplicação que é dada a este material – passarão a ser usadas apenas em vinhos de elevada qualidade e preço, “deixando de ser utilizadas na grande maioria das garrafas que se vendem no supermercado”.

Apesar de o seu futuro estar “ameaçado”, há uma comercialização cada vez maior de produtos à base de cortiça, nomeadamente vestuário e acessórios feitos com folhas desta matéria-prima coladas sobre tecido, que mostram a flexibilidade e polivalência do material.

As propriedades da cortiça, a sua estrutura e aplicação, é exactamente o tema do livro que é lançado hoje no Instituto Superior de Agronomia (ISA), em Lisboa, uma obra que resulta de 20 anos de pesquisa dos investigadores Manuel Fortes, Emília Rosa e Helena Pereira e que os autores esperam poder contribuir para a “defesa” desta matéria-prima.



Fonte: Lusa

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