Os cientistas britânicos alertam que o impacto da gripe das aves pode ter sido subestimado, pois de acordo com estes, o vírus ataca vários órgãos do corpo humano e não apenas os pulmões, como se acreditava até agora.
Os peritos, da Universidade de Oxford, suspeitam que a gripe das aves não se limita aos órgãos respiratórios e afirmam, num artigo publicado na revista "New England Journal", que na sua opinião o vírus é também transmissível entre humanos.
Quarta-feira, durante uma conferência em Lisboa, Bernardus Ganter, um conselheiro da Organização Mundial da Saúde, avisou que o risco de uma grave epidemia de gripe é iminente a curto ou médio prazo.
"A ameaça está identificada: o vírus da gripe das aves (H5N1)", disse o especialista.
O especialista acredita que um terço da população mundial será infectada e 1% dos infectados acabará por morrer, se este novo vírus se adaptar à espécie humana e adquirir a capacidade de se transmitir entre pessoas.
Até agora, o total de casos confirmados é de 55, entre eles 42 mortais, todos na Ásia, mas os peritos britânicos consideram que se tem subvalorizado o problema.
Os investigadores estudaram a morte de dois irmãos que viviam numa única casa com os pais no sul do Vietname.
Os irmãos foram internados num hospital afectados com gastroenterite e encefalite aguda, e nenhum deles manifestou qualquer sintoma de problemas respiratórios.
As análises efectuadas indicam, no entanto, que um dos irmãos, uma criança de quatro anos, tinha sinais do vírus da gripe das aves nas fezes, sangue, nariz e nos fluidos do cérebro.
Suspeita-se que a sua irmã, de nove anos, que faleceu duas semanas antes, em Fevereiro do ano passado, foi igualmente vítima do mesmo vírus.
Segundo Menno de Jong, virólogo da Unidade de Investigações Clínicas da Universidade de Oxford, Reino Unido, o vírus parece adaptar-se pouco a pouco a diferentes espécies de mamíferos nos quais pode provocar infecções.
Entre as doenças que é capaz de causar nos humanos, conta-se a encefalite, segundo o cientista.
Jeremy Farrar, outro investigador que trabalha para a Organização Não Governamental (ONG) Wellcome Trust en Vietnam, diz que os últimos estudos apontam a possibilidade de a gripe das aves adoptar várias formas.
"Até agora temo-nos centrado em pacientes com doenças respiratórias, mas não é só aí que deveríamos investigar" assinala Farrar.
De acordo com Farrar, a presença do vírus nas fezes indica que se pode transmitir de umas pessoas para outras, sobretudo quando partilham um espaço pequeno.
Apesar de ainda não se saber como as crianças vietnamitas contraíram a doença, sabe-se que a rapariga nadava com frequência num canal próximo de casa, cujas águas podiam estar contaminadas por patos infectados com o vírus.
Em Lisboa, Bernardus Ganter sustentou que existem semelhanças entre a gripe das aves e a gripe espanhola de 1918, que causou a morte de milhões de pessoas em todo o mundo.
Na mesma conferência, na Fundação Calouste Gulbenkian, o subdirector geral de saúde, Francisco George, sugeriu a criação de uma plataforma com a participação de vários organismos para reforçar a resposta nacional ao risco de uma pandemia de gripe.
Os especialistas lembraram que estamos a aproximar-nos do fim do período interpandémico - surge uma pandemia de gripe em intervalos que podem ir dos 10 aos 50 anos e a última ocorreu em 1968 - sendo esta a altura de reforçar a vigilância.
Fonte: Lusa e Confagri