Uma especialista do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária (LNIV) revelou na passada sexta-feira que o plano de vigilância da BSE (conhecida também por “doença das vacas loucas”), introduzido em Portugal em 2000, reduziu de forma significativa o número de animais infectados.
Leonor Orge, a representante do LNIV, falava à margem do II seminário sobre “Encefalopatias Espongiformes Bovinas”, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Vila Real, e salientou que as medidas concretizadas em Portugal para combater a BSE traduziram-se numa “regressão muito significativa da doença”.
Por esse motivo, frisou, em 2004 a União Europeia levantou o embargo à carne de bovino portuguesa.
A responsável destacou para além da vigilância activa, que compreende a realização de testes rápidos a todos os animais para consumo com mais de 30 meses, que arrancou em 2000, a interdição das farinhas de carne e osso na dieta alimentar dos bovinos.
Portugal foi o quarto país da União Europeia com mais casos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE) em 2004, num total de 92 animais infectados, de acordo com dados da Comissão Europeia.
O Reino Unido registou o maior número de casos (316), seguido da Espanha (133) e Irlanda (126).
A incidência portuguesa de BSE significa uma diminuição significativa de ocorrências em relação a 2003, quando se detectaram 133 animais infectados, incluindo os importados, e uma inversão na tendência, uma vez que há dois anos Portugal foi o único país, juntamente com Espanha, a aumentar os casos, uma situação justificada também pelo crescimento do número de testes de rastreio da doença.
A leitura dos dados dever ter em conta o universo dos animais existentes com mais de 24 meses - nos quais é feita a despistagem da BSE - o que no caso de Portugal ronda os 800 mil, enquanto em França atinge perto de 11 milhões.
De acordo com Leonor Orge, o primeiro caso de BSE foi diagnosticado em Portugal em 1990 num animal importado do Reino Unido, tendo sido detectado o primeiro caso de um bovino nascido no país em 1994.
Salientou ainda que “a doença atingiu o seu pico epidérmico em 1999, ano em que foram diagnosticados 159 casos de BSE”.
De acordo com Manuel Melo Pires, médico do Hospital de Santo António, no Porto, entre 1993 e 2003 foram identificados 11 doentes infectados com a variante humana da BSE (a doença de Creutzfeldt-Jakob) em hospitais do Norte do país.
Também em discussão no seminário, que reuniu especialistas de toda a Europa, esteve a scrapie, uma Encefalopatia Espongiforme Transmissível que afecta ovinos e caprinos e que se tornou na mais comum deste grupo de doenças, de que se destacam a Creutzfeldt-Jakob no homem e a BSE.
A scrapie já é conhecida há mais de 250 anos e até à data não existem evidências de que possa ser patogénica para o homem, mas o facto de ter surgido a variante humana da BSE desencadeou uma redobrada atenção a todas as formas de Encefalopatia Espongiforme Transmissíveis.
Por isso, em 2001, a União Europeia elaborou um plano de vigilância activa para calcular a "real incidência" desta doença nos países europeus.
De acordo com Rosário Bobone, da Direcção Geral de Veterinária, foi na sequência da concretização deste plano que surgiram os primeiros casos de scrapie em Portugal (28 casos detectados em 2004), todos eles de forma atípica, uma nova variante da doença que ainda está a ser estudada, mas que se pressupõe que tem potencial para afectar os seres humanos.
Fonte: AgroPortal