A Agência Portuguesa de Segurança Alimentar (APSA) tomou conhecimento, através da Rede de Alerta Rápido no dia 21 de Abril, que tinham sido detectadas biotoxinas marinhas do tipo diarreico (DSP-Diarrheic Shellfish Poisoning) em mexilhões vivos provenientes de Espanha.
Os lotes identificados à venda em Portugal já foram recolhidos pela Direcção Geral de Fiscalização e Controle da Qualidade Alimentar.
Os sintomas destas toxinas caracterizam-se por: diarreias, vómitos, dores abdominais, fraqueza muscular e cefaleias. No entanto, mesmo em doses elevadas, a DSP não provoca a morte.
As intoxicações alimentares devidas à ingestão de moluscos bivalves são relativamente frequentes e podem ser devidas a contaminação por microrganismos patogénicos que proliferam nas águas costeiras.
Outra causa de toxicidade deve-se à presença nos bivalves de biotoxinas provenientes de microalgas tóxicas. Este último tipo de contaminação, contrariamente ao anterior, ocorre ocasionalmente, sendo imprevisível, a longo prazo, o seu aparecimento.
A contaminação dos recursos marinhos por biotoxinas provenientes de determinadas microalgas tóxicas insere-se na problemática dos florescimentos de algas nocivas (“Harmful Algal Blooms”) que, anualmente, causa graves prejuízos económicos.
Estes florescimentos invulgares são denominados marés vermelhas (“red tides”), embora a coloração da água possa ser esverdeada, acastanhada ou amarelada. No entanto, pode haver acumulação de biotoxinas nos recursos marinhos sem que ocorra a coloração da água. A contaminação esporádica com biotoxinas em animais que têm uma alimentação filtradora, como é o caso dos moluscos bivalves, pode originar intoxicações agudas no Homem embora não afectando aparentemente o animal contaminado. Neste caso particular, podem ser suficientes proliferações diminutas de células que não chegam a alterar a cor da água. O fenómeno é devido essencialmente a microalgas do grupo dos dinoflagelados.
A intoxicação do tipo DSP tem sido causada por microalgas das espécies Dinophysis acuminata e D. acuta. Estas algas produzem, pelo menos, dois compostos químicos – o ácido ocadáico e as dinofisistoxinas – que são responsáveis por intoxicações agudas com um quadro exclusivamente gastrointestinal: diarreia, vómitos, dores epigástricas e abdominais, fraqueza muscular e cefaleias. Estes sintomas podem surgir desde as primeiras horas até 24 horas após o consumo e a diarreia pode durar até 3 dias. Mesmo em doses elevadas, a DSP não provoca a morte. A sazonalidade desta contaminação pode ser bastante alargada, desde o final da Primavera ao Outono, tendo particular incidência nos meses estivais, mas podem ocorrer excepções que dependem de condições climáticas e oceanográficas invulgares. A contaminação por DSP é característica da Costa Atlântica Ibérica, e é estudada em Portugal desde 1987 conhecendo-se diversos casos de intoxicações humanas.
Os bivalves contaminados com concentrações mais elevadas da toxina DSP são geralmente os mexilhões, conquilhas e berbigões. No entanto, uma ingestão elevada de outros bivalves de maiores dimensões, como o longueirão, pode originar os mesmos sintomas ainda que apresentem concentrações mais baixas da toxina. A residência desta toxina nos bivalves é geralmente prolongada – até várias semanas – especialmente nos mexilhões da costa noroeste portuguesa o que implica a interdição da captura durante períodos mais alargados.
Cuidados a ter em conta
Quando é lançado um alerta de interdição da apanha e comercialização de moluscos bivalves vivos não deve apanhar bivalves, nem deve consumir bivalves provenientes das zonas interditas. No seu meio natural, os bivalves eliminam as toxinas acumuladas assim que as microalgas produtoras desapareçam da água do mar, o que, normalmente, se verifica em períodos relativamente curtos.
Tenha em atenção que:
• A fervura não destrói as biotoxinas (apesar de ser útil na eliminação de bactérias);• A depuração com água não elimina suficientemente as biotoxinas;• Os bivalves contaminados por biotoxinas não têm sabor, cheiro ou cor diferentes dos próprios para consumo.
Mais informações:
IPIMAR - Divulgação Nº 26/ Novembro 2002
http://ipimar-iniap.ipimar.pt/pdf-docs/Folheto%2026.pdf
http://ipimar-iniap.ipimar.pt
Vale, P., 2004. Biotoxinas Marinhas. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias 99 (549), pp. 3-18.
http://www.fmv.utl.pt/SPCV/edicao/3_2004/549_03_18.htm
Fonte: APSA