A indústria promove alguns produtos alimentares de forma enganosa, atribuindo-lhes benefícios nutricionais e para a saúde que não têm.
A UE prepara um regulamento contra os abusos e quer proibir mensagens do tipo "light", "extralight", "revitalizante", "melhor para si", "fortifica os ossos", "energia", "acção", "efeito bifidus", "natural", "enriquecido com cálcio", "menos açúcar" ou "pouco sal".
Mensagens - intituladas "alegações de saúde ou nutricionais" - que visam, sobretudo, aumentar a margem de lucro das empresas, criticam os consumidores. O tema está hoje em debate no seminário "A obesidade infantil uma nova epidemia", promovido pela associação de consumidores Deco.
Graça Cabral, da Deco, explica que "o consumidor é induzido em erro. E, como pensa que é um bom alimento, come em excesso, o que é ainda mais prejudicial para a saúde".O que significa "corpos Danone", um iogurte "natural", um cereal que "fortalece os ossos", uma água "revitalizante", umas batatas fritas com "pouco sal" ou um cereal com "menos açúcar"? Nada. A maioria das mensagens usadas nada querem dizer e só confundem as pessoas. De acordo com a Deco, são também frequentes os anúncios de alimentos enriquecidos com cálcio ou dos chocolates com muito leite. "O leite já é um alimento enriquecido e as pessoas devem-no beber o mais natural possível. Há marcas de chocolates que promovem o leite que contém. Mas, para que a criança consuma uma quantidade razoável tem de comer muitas barrinhas", diz Fernanda Santos, da Deco, especialista em alimentação.
Para acabar com este tipo de situações a UE prepara um regulamento, em que só se podem promover os benefícios nutricionais cientificamente provados. É o caso da Becel, anunciada como uma margarina que reduz o colesterol. É que a UE está especialmente preocupada com os mais novos, sempre mais vulneráveis às mensagens publicitárias e aos brindes. Os avós são outro grupo de risco, já que compram tudo para os netos.
"A indústria alimentar tornou-se mais complexa e há muitos consumidores interessados na sua dieta alimentar, que lêem os rótulos. Mas precisam de clareza, de precisão e de informação", defende o BEUC, organização de consumidores europeia, que integra 36 associações dos 25 e elaborou os 10 mandamentos das alegações.
Isabel Sarmento, directora-geral da Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares, concorda com a regulamentação, até "para harmonizar as regras e evitar discriminações". Defende que os fabricantes devem anunciar as vantagens dos produtos, desde que comprovados cientificamente, mas desresponsabiliza-os no aumento da obesidade. "Não há culpados. O consumidor tem muito mais escolha, o que é uma vantagem, mas tem um estilo de vida diferente. Muito sedentária."
Para a Deco, a indústria tem alternativas, mas não faz alimentos mais saudáveis.
Fonte: Diário de Notícias