Um surto de gripe das aves causado pelo vírus H5N1 (o mesmo que tem devastado inúmeras explorações asiáticas desde 2003) foi detectado em Abril numa população de gansos selvagens migradores, na região ocidental da China.
Foi a primeira vez que este vírus se identificou em aves selvagens, longe de explorações agrícolas, e os cientistas estão preocupados porque isso torna a possibilidade de uma pandemia (epidemia global) de gripe entre as aves ainda mais provável.
A descoberta, que é revelada na edição de hoje da revista Nature, vem realçar os receios de que esta doença, que está a afectar as aves de criação em vários países da Ásia, onde já obrigou ao abate de milhões de animais, se expanda assim mais rapidamente e ultrapasse a barreira dos Himalaias (rumo ao ocidente), ficando fora de controlo, escreve a equipa de cientistas chineses, liderada por Yi Guan, que estudou o caso.O surto foi detectado numa espécie de gansos selvagens, a Anser indicus, no Lago Qinghai, uma reserva natural protegida na região ocidental da China, e só até 20 de Maio já tinha vitimado mais de 1500 gansos selvagens. Uma análise genética do vírus em causa mostrou, por outro lado, que ele é um "parente" muito próximo do que já infectou uma série de pessoas na Tailândia e no Vietname, nos últimos tempos, tendo causado a morte a 55 delas.A possibilidade de contágio em relação aos seres humanos é, de resto, o problema mais sério que se levanta e que está a preocupar a Organização Mundial de Saúde (OMS). Até agora, todos os casos de doentes humanos com gripe das aves parecem ter sido contagiados pelas próprias aves doentes, não havendo para já indícios de transmissão do vírus entre os seres humanos. Mas, como explicam os peritos, estes agentes patogénicos caracterizam-se por ser muito instáveis e, uma vez quebrada a barreira de espécies (com o cruzamento entre o vírus das aves e o dos seres humanos), ficará o caminho aberto para uma nova e virulenta pandemia humana. Caso isso venha a acontecer, a OMS estima que o vírus possa contagiar um terço da população mundial. Daí a importância de monitorizar cuidadosamente o vírus nas aves e de avançar para a vacinação dos animais, como propuseram os especialistas que há dias estiveram reunidos na Malásia, para discutir a situação. No artigo hoje publicado na Nature, os investigadores chineses alertam para a possibilidade de as aves migratórias espalharem a epidemia durante os próximos meses para a Europa e para regiões da Ásia onde até agora não tem havido casos, e recomendam uma vigilância mais cuidada em todas as explorações agrícolas que fazem criação, para detectar qualquer caso da doença.
Fonte: Diário de Notícias