Os veterinários responsáveis pela fiscalização da qualidade das carnes nos matadouros portugueses estão a ser sujeitos a pressões dos agentes económicos para não empregarem rigor na sua actividade.
Uma vez que mais de metade dos médicos veterinários trabalha a recibos verdes e podem ser dispensados a qualquer momento, estes profissionais são um alvo viável devido à situação laboral em que se encontram.
José Cardoso Resende, bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, afirmou que já aconteceram «casos de agressões sobre os inspectores sanitários». Explicou que «se um veterinário rejeita uma peça tudo bem, mas se, em vez de uma peça, rejeita três ou quatro porcos ou uma vaca, o agente económico começa a ver que lhe estão a ir ao bolso».
O “Correio da Manhã” contactou a Direcção-Geral de Fiscalização e Controlo da Qualidade Alimentar, organismo onde apurou que «os inspectores não podem fazer grandes ondas em relação à segurança da carne» destinada ao mercado de consumo humano. Uma situação que, para o bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, é «extremamente delicada: é uma questão de saúde pública».
De facto, as pressões e agressões por parte dos matadouros e agentes económicos com eles relacionados infligidas a inspectores sanitários já deram origem a cerca de 10 processos judiciais, queixas incentivadas pela própria Ordem dos Médicos Veterinários, que já propôs a constituição de um Corpo Nacional de Inspecção Veterinária. Enquanto o Ministério da Agricultura não aceitar a proposta, estes profissionais continuarão na mesma situação laboral.
Fonte: Correio da Manhã