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Portugal sem vigilância das zonas de risco para gripe
2005-09-06

Portugal precisa de definir as áreas de risco de contaminação pelo vírus da gripe das aves, para aí efectuar uma monitorização "activa e sistemática" do perigo que podem representar as espécies migratórias.

O alerta é do bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, Cardoso Resende, que defende um financiamento comunitário para esta estratégia, que acarreta grandes encargos para os Estados. Este esquema não está montado em Portugal, onde entre as áreas mais ameaçadas estão "a ria de Aveiro, os estuários do Tejo e Sado e a albufeira de Alqueva". O tema está agora em discussão, até porque a Comissão Europeia - que desvalorizou o perigo das aves migratórias - prepara a eventualidade de uma pandemia com a elaboração da primeira Directiva com actuações muito concretas em caso de surto da gripe das aves, na qual estabelece, contudo, que a prevenção é deixada à responsabilidade dos Estados-Membros. Contudo, segundo Cardoso Resende, a preocupação é comunitária e a detecção de qualquer problema poderá pôr os países em prevenção. "As zonas a vigiar de forma permanente são as que têm maior superfície de água e onde chegam aves migratórias em abundância", explica. Em Portugal, é o caso das áreas ligadas aos rios Vouga, Tejo, Sado e Guadiana, onde podem chegar espécies selvagens com risco para os efectivos domésticos. Aliás, lembra o bastonário, os casos de infecção que tiveram lugar na Europa (na Itália e Holanda) aconteceram em "zonas lacustres", ou seja, ricas em água. A necessidade de definir áreas de maior vigilância, explica Cardoso Resende , explica-se pelo facto de não ser possível "vigiar a Europa toda".A "cobertura da monitorização por parte da União Europeia faz todo o sentido e não se pode olhar aos gastos necessários para a montagem de um sistema, face aos benefícios extraordinários que pode trazer". Caso contrário, acredita, "mais cedo ou mais tarde, a Europa lamentar-se-á dessa avareza na distribuição de recursos".A gripe das aves, defende o bastonário dos médicos veterinários, "é uma doença que pode trazer avultadas consequências económicas e que encerra o perigo da zoonose, ou seja, da sua transmissão ao homem". A prevenção é, assim, "a posição correcta", porque este é um "risco muito importante que implica a criação de zonas de controlo em permanência".Embora considere que existem "sectores de risco" e que deve ser reforçada a monitorização das espécies, com vista a detectar rapidamente eventuais infecções nos animais, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) considera "remoto" o risco de o H5N1 chegar a Portugal por via das aves migratórias.De acordo com Domingos Leitão, técnico superior do Departamento de Conservação da SPEA, "os contingentes de espécies que invernam em Portugal e podem constituir um risco, por virem das zonas afectadas pela doença, são reduzidos". Entre as 11 espécies de patos (50 mil por ano) que, na sua viagem para sul, cruzam a Península Ibérica, o pato-colhereiro, a marrequinha, o zarro e o arrapio são aquelas que, segundo o doutorado em Biologia, "se reproduzem em todo o continente europeu e asiático" e "poderão conter indivíduos provenientes das zonas atingidas pelo H5N1".Mesmo assim, frisa, "80% das espécies e populações que invernam em Portugal percorrem o caminho mais ocidental, a chamada "Rota do Atlântico Leste", que vem do Árctico siberiano e atravessa a Escandinávia e todo o Noroeste europeu (Alemanha, Holanda e França), passando pela Península Ibérica antes de seguir para África. Apenas "10% das aves aquáticas siberianas invernantes se instalam na região ocidental da nossa península". É deste grupo que fazem parte a maioria das 11 espécies de patos que, todos os anos, escolhem Portugal para passar o Inverno. A estas somam-se cerca de três mil gansos-bravos. Mesmo assim, números "muito diminutos" quando comparados com os de países como a Holanda, a Alemanha ou zonas da Sibéria e do Cazaquistão, onde "se reúne um milhão de aves em torno de um lago".Segundo Domingos Leitão, na Holanda, por exemplo, "um país com metade da superfície do nosso", invernam "29 mil cisnes de três espécies, mais de um milhão de gansos de seis espécies e ainda quase um milhão e meio de patos de 17 espécies diferentes". Daí que, comenta, não seja de estranhar as medidas restritivas adoptadas pelo país para evitar o contacto de todas estas aves migratórias com as aves domésticas. Recorde-se que a "promiscuidade" entre bandos de aves selvagens e de capoeira foi uma das circunstâncias comuns a todas as regiões onde surgiu o surto, do Sudeste Asiático à Sibéria. Para Domingos Leitão, no entanto, o perigo existe e é preciso estar preparado. O "pico de abundância de aves invernantes é a segunda metade de Dezembro e Janeiro" mas algumas aves migratórias já se encontram no território e é necessário reforçar a monitorização.Embora considere que, enquanto a doença não chegar à Europa, a caça às aves migratórias não deve ser proibida no País, o especialista considera que as autoridades deveriam aproveitar a actividade cinegética para proceder à recolha de amostras para análise e sensibilizar os caçadores para adoptarem medidas de prevenção.



Fonte: Diário de Notícias

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