É mais um SOS que chega do Atlântico: há populações inteiras de bacalhau neste oceano que estão em estado crítico e em risco de desaparecerem completamente, devido à ação humana.
As populações em causa, segundo o mais recente relatório da ONG Oceana, vivem no nordeste do Atlântico, em toda a costa que banha a Europa do Báltico ao Golfo da Biscaia. De acordo com a organização, pela primeira vez há escassez deste peixe no Atlântico.
Na origem do problema está uma ‘tempestade perfeita’ constituída por vários fatores. “A junção fatal das alterações climáticas e da sobreexploração de recursos naturais tem muitos efeitos, um deles é submarino, invisível e transversal a muitas espécies, que estão em risco severo de colapso”, alerta Javier López, diretor da campanha de pesca sustentável da Oceana Europa, em entrevista ao El Confidencial.
Os efeitos não se sentem só no facto de haver menos peixe e menos emprego no setor das pescas, mas podem mesmo significar a ameaça de desaparecimento de uma ou várias espécies que estão intrinsecamente associadas à nossa história e ao ecossistema marinho.
“O que vemos no bacalhau dá medo”, lamenta o responsável, que assinala que também a anchova ou a tão portuguesa sardinha estão em níveis “preocupantes”.
Os dados científicos apontam que o aquecimento global e a subida das temperaturas dá água do mar têm afetado a capacidade reprodutiva destas espécies, ao mesmo tempo que continuam a ser pescadas em demasia. Ainda que haja redução de 3%, de ano para ano, nas frotas pesqueiras, os avanços tecnológicos permitem que a sua capacidade de pesca cresça a um ritmo muito superior, 5% ao ano.
O relatório pretende ser um ‘puxão de orelhas’ à UE, para que oiça os apelos da comunidade científica e adotem medidas urgentes de limitação das quotas de pesca “com o objetivo de permitir a recuperação de espécies e cumprir com os compromissos nacionais e internacionais de gestão pesqueira”.
Nas 25 populações de peixes em águas do nordeste do Atlântico, de 12 espécies diferentes, verifica-se o mesmo: a sua abundância reduziu de tal forma que a sua reprodução está afetada e, por isso “estão à beira do colapso” e “em estado crítico de conservação”.
O bacalhau aparece em escassez em várias zonas, com 9 populações dizimadas, segundo o relatório da Oceana.
Esta situação ocorreu de forma semelhante no Canadá mas, ainda que não tenha chegado ao extermínio do bacalhau, a população deste peixe na zona da Terra Nova nunca recuperou.
Sete das 10 populações de peixes mais em risco situam-se nas águas em redor do Reino Unido, pelo que os responsáveis deixam um apelo: “Os nossos mares nunca estarão em bom estado até que os países se comprometam a pescar dentro dos limites sustentáveis, a proteger os habitats, e a impedir métodos de pesca destrutivos e industriais ponham fim aos pequenos pescadores locais”, afirmam.
A situação é tão alarmante que o Conselho Internacional de Exploração do Mar (ICES), recomentou suspender totalmente a pesca de bacalhau em 2023. A decisão ainda não está tomada, mas, a continuar da mesma forma, no ano que vem o bacalhau pode mesmo entrar em extinção na mesa portuguesa.
Fonte: Multinews