Investigadores analisaram o impacto da Salmonella nas crianças em Portugal para ajudar a melhorar o conhecimento deste patogénico no país.
O estudo visava caracterizar, de uma perspetiva epidemiológica, microbiológica e clínica, casos de Salmonella em crianças.
Em Portugal, de 2011 a 2014, foram registadas 785 infeções por salmonela, sendo que, mais de 80% dos casos foram em crianças com menos de 15 anos.
Os investigadores analisaram os casos de salmonelose num hospital de Lisboa entre Janeiro de 2015 e Julho de 2020. De acordo com o estudo publicado na revista Acta Médica Portuguesa (AMP), este incluiu 63 crianças, das quais 81% eram portuguesas e trinta e seis casos eram do sexo masculino.
No momento do diagnóstico a idade média era de 4 anos, mas variava entre os 3 anos e meio e os 9 anos. A faixa etária que tinha mais casos era a inferior a 5 anos. Apesar do pequeno número de casos por ano, 37 deles eram suficientemente graves para exigirem hospitalização.
A mediana no período do estudo foi de 11 casos por ano, com uma variação para 14 em 2015 e 2017 e para 6 em 2018.
Contudo, devido à falta de tratamento em muitos casos, o número de pacientes foi provavelmente muito mais elevado. Os meses de Maio, Junho e Setembro registaram o maior número de pacientes. Os serótipos mais identificados foram Salmonella Enteritidis e Salmonella Typhimurium.
"Presume-se que a prevalência da salmonelose é muito mais elevada do que a apresentada. Uma das razões é que, embora a notificação no nosso país para todas as infeções por Salmonella seja obrigatória, muitos casos não são identificados durante a avaliação inicial e, portanto, não são notificados", disseram os investigadores.
"Além disso, nem todos os que têm uma infeção por Salmonella procuram cuidados médicos, e os prestadores de cuidados de saúde podem não obter uma amostra para diagnóstico laboratorial, ou o laboratório de diagnóstico clínico pode não ser capaz de realizar os testes de diagnóstico necessários".
Os investigadores afirmaram que os resultados iriam expandir os conhecimentos sobre salmonelose em Portugal e melhorar as estratégias de prevenção, o tratamento e os seus relatórios.
Os dados sobre o consumo de alimentos potencialmente contaminados eram escassos, mas de 12 crianças, duas foram confirmadas como sendo de leite e ovos. Relativamente a viagens recentes, estavam disponíveis dados relativos a 17 crianças: duas tinham estado na Guiné-Bissau ou Angola e as outras tinham viajado para São Tomé e Príncipe, Brasil, Índia, e Marrocos.
"A prevenção da contaminação implica o controlo em todas as fases da cadeia alimentar: medições específicas na produção primária, nomeadamente o controlo da alimentação animal e o cumprimento de boas práticas de higiene na produção e transformação animal, para evitar a contaminação cruzada; controlo da temperatura de armazenamento para evitar o crescimento; e especial atenção aos produtos que são reprocessados, uma vez que favorece o crescimento da Salmonella", de acordo com o estudo.
Registaram-se complicações em 24 crianças, sendo a desidratação a mais frequente. Das crianças cujo acompanhamento médico era conhecido, em 12 as novas amostras de fezes colhidas eram negativas, em média, 3,5 meses após o diagnóstico.
As taxas de resistência aos antibióticos foram de 19% para a ampicilina e 6,4% para a amoxicilina + ácido clavulânico e o cotrimoxazol. Não foi encontrada resistência às cefalosporinas de terceira geração. As maiores taxas de resistência foram registadas pela Salmonella Typhimurium à ampicilina.
Os investigadores consideram que deveria ser feito um estudo nacional para determinar a incidência real da salmonelose em Portugal, bem como as estirpes mais frequentes e a resistência a antibióticos. Acrescentaram que a taxa de notificação, embora obrigatória, permanece abaixo das expectativas.
Fonte: Food Safety News