Um especialista português considera que a possibilidade da doença das vacas loucas ter origem no homem, avançada pela revista The Lancet, é "remota" porque os cadáveres humanos supostamente ingeridos pelo gado não têm o Sistema Nervoso Central.
Carlos Sinogas fez parte da Comissão de Estudo e Acompanhamento das Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis em Portugal (CEAEE) e mostrou-se céptico em relação a uma teoria sobre a Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE).
Os investigadores britânicos Alan Colchester (professor de medicina e ciências da saúde na Universidade de Kent) e Nancy Colchester (das faculdades de Medicina e de Medicina Veterinária da Universidade de Edimburgo) indicam que a doença das vacas loucas foi importada para a Europa, através do Reino Unido, em rações para animais e ossos originários do Sul da Ásia, que incluíam restos humanos recolhidos no rio Ganges.
O estudo refere que as importações - destinadas à alimentação animal e que decorreram entre os anos 1950 e 1970 - incluíam restos de corpos humanos parcialmente calcinados em cerimónias fúnebres da religião hindu e recuperados das águas do Ganges, que poderiam ser portadores da doença de Creutzfeld-Jakob, a variante humana da BSE (doença das vacas loucas).
Para Carlos Sinogas, a hipótese de ser o homem a transmitir à vaca a doença e não o contrário, como até agora tem sido avançado, chegou a ser colocada, mas posta de parte quando se concluiu que esta era uma patologia de transmissão animal.
O especialista adverte que "ninguém pode dizer que não é [esta a origem da BSE]", embora manifeste algumas reservas, no que diz respeito aos níveis de infecção.
Isto porque, de acordo com a investigação de Alan Colchester e Nancy Colchester, as rações em causa teriam ossos humanos e não o Sistema Nervoso Central (SNC), onde o grau de infecção é muito elevado.
Por esta razão, Carlos Sinogas não acredita que os resultados desta investigação vão retomar o debate em torno da BSE que, segundo disse, tem um grande impacto na opinião pública, embora não seja um problema de saúde pública.
O especialista - que trabalha na Comissão Técnica dos Medicamentos do Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (Infarmed) - considera que a doença está actualmente controlada.
A BSE, descoberta em 1986 no Reino Unido, é uma Encefalopatia Espongiforme Transmissível (EET), doenças neurológicas lentas, incluídas no grupo das patologias progressivas e degenerativas do Sistema Nervoso Central (SNC).
A doença propagou-se aos seres humanos, sob a forma de uma nova variante da doença de Creutzfeld-Jakob: a "BSE humana".
Os dois países europeus mais afectados pela doença foram o Reino Unido, com 157 casos, e a França, com 14 doentes registados.
Em Portugal, a doença de Creutzfeld-jakob afecta, em média, 10 a 15 portugueses por ano, mas o primeiro caso provável de contágio através do consumo de carne bovina foi registado em Junho deste ano.
Fonte: AgroPortal