Começa hoje em Genebra, na Suíça, uma reunião convocada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para discutir medidas de prevenção de uma nova epidemia global de gripe, que é considerada inevitável, dada a evolução do vírus da gripe das aves. Vão estar presentes cientistas e pelo menos 16 empresas farmacêuticas - a Aventis Pasteur anunciou já que vai começar a produzir vacinas contra a gripe durante todo o ano, e não apenas antes do Inverno, para preparar reservas caso surja uma gripe potencialmente mortífera, como a gripe das aves.
As vacinas da gripe são produzidas em ovos de galinha, mas só durante um certo período. A ideia agora é manter esse processo durante todo o ano, para garantir que há sempre ovos suficientes para produzir vacinas em grande escala, se for necessário. Este Inverno, os problemas associados à produção de vacinas para a gripe ficaram demonstrados nos EUA, porque a maior parte dos "stocks" das vacinas compradas ficaram contaminados com uma bactéria e tiveram de ser destruídos. Assim, os EUA não têm vacinas suficientes para imunizar a população.
Mas as farmacêuticas estão também a estudar a hipótese de um plano B: é que o vírus H5N1, surgido pela primeira vez em Hong Kong em 1997, é tão letal para as galinhas que não tem sido possível criar uma vacina da forma tradicional. Por esse motivo, vários laboratórios estão a trabalhar no desenvolvimento de vacinas com alguma manipulação genética, para contornar essa dificuldade. A Aventis, por exemplo, anunciou ter feito já 8000 doses de uma vacina experimental contra a gripe das aves, que será testada em humanos no início de 2005.
O vírus da gripe que tanto preocupa os cientistas já matou 32 pessoas na Tailândia e no Vietname, levou ao abate de milhões de aves de capoeira e surgiu no mês passado em águias introduzidas ilegalmente na Bélgica. "O H5N1 está a circular por toda a Ásia, e está a tornar-se cada vez mais patogénico. Acreditamos estar perto de uma epidemia global", disse o cientista que lidera o Programa Global da Gripe da OMS, Klaus Stöhr. Estatisticamente, as epidemias de gripe ocorrem em ciclos de dez a 27 anos; e a última epidemia global ocorreu já há 36 anos.
Receando o surgimento em breve de uma epidemia, os cientistas têm-se esforçado para decifrar as particularidades desta nova estirpe do vírus da gripe. Sabe-se que os patos convivem com o vírus sem problema, embora seja mortal para as galinhas.
Os cientistas descobriram que pode infectar outros mamíferos, além do homem, mas que não é transmissível de pessoa para pessoa, tem de ser transmitido directamente de uma ave, o que limita as suas possibilidades de expansão – por ora. Se se combinar com outros vírus que infectam humanos, pode transformar-se numa supergripe, com características de vírus das aves contra as quais o sistema imunitário humano estaria sem defesas, e características de vírus dos mamíferos, que lhe permitiriam espalhar-se pela população. Isto é o que se pensa que ocorreu em 1918, com a grande epidemia de gripe global, que terá morto pelo menos 20 milhões de pessoas.
Fonte: Público