Uma dieta equilibrada e adequada a cada paciente é indispensável à recuperação dos doentes com cancro e ajuda a tolerar a melhor os tratamentos, conclui um estudo ontem apresentado em Lisboa sobre o papel da nutrição no combate ao cancro.
A iniciativa subordinada ao tema "A importância da nutrição clínica para uma maior eficácia das terapêuticas", realizada com base em estudos da cientista portuguesa Paula Ravasco, visa desmistificar a questões relacionadas com a nutrição clínica, imprescindível para uma recuperação eficaz e continuada dos doentes oncológicos.
Paula Ravasco explicou que "cerca de 20% dos doentes oncológicos têm o tumor controlado do ponto de vista clínico mas por não terem tido acompanhamento nutricional o seu estado geral deteriora-se e acabam por morrer não da doença mas pela desnutrição".
Autora de dez estudos sobre a relação entre o cancro e a alimentação, Paula Ravasco afirmou que "há pessoas que têm o mesmo tipo de cancro, no mesmo estádio, com a mesma intervenção e os mesmos tratamentos, mas que reagem de formas diferentes" pelo que "a dieta deve ser adequada ao tipo de cancro e à pessoa" relativamente à tolerância de cada indivíduo.
"Se não houver uma dedicação e atenção dos profissionais entendendo a nutrição como fazendo parte do tratamento, agrava a desnutrição já existente", explicou José Carlos Martins, enfermeiro do Instituto Português de Oncologia de Coimbra durante 11 anos.
O enriquecimento da dieta "através de suplementos vitamínicos, proteicos e energéticos que a indústria farmacêutica tem ao dispor" é defendido por José Carlos Martins como um dos pontos fundamentais do combate à desnutrição dos doentes oncológicos.
Nos casos em que não é possível a ingestão normal de alimentos, a alimentação entral (através de um tubo colocado directamente no aparelho digestivo) ou parentral (quando não é possível utilizar o aparelho digestivo) é a solução de recurso para o enfermeiro.
Estudos indicam que a diminuição do peso associada à perda de apetite, justificada pela libertação de substâncias do tumor, é o sintoma que leva os doentes oncológicos a uma primeira consulta.
Na origem da perda de peso estão vários factores como a necessidade de o doente oncológico realizar vários exames que obrigam ao jejum.
Os tipos de tumor, como por exemplo os digestivos, e os tratamentos agressivos como radioterapia e quimioterapia, que provocam náuseas, vómitos e diarreias, são também causa de desnutrição.
Paula Ravasco adiantou que, na sequência destes estudos, vários hospitais portugueses e estrangeiros se mostraram interessados em desenvolver projectos conjuntos com doentes oncológicos.
Paralelamente à questão da nutrição, o presidente da Associação Spina Bífida e Hidrocefalia de Portugal, Luís Quaresma, falou sobre a importância do ácido fólico na dieta da grávida, reduzindo em 75% a malformação por espinha bifída e outra complicações do tubo neural.
O ácido fólico é uma vitamina presente em alimentos como as verduras e a fruta que actua na formação do sistema nervoso central do feto durante a 19ª e 29ª semana de gestação "quando a maior parte das mulheres não sabe que está grávida" disse Luís Quaresma.
"Em alguns países o ácido fólico já é adicionado em alimentos de grande consumo como o pão e a farinha com resultados comprovados na diminuição dos caso de espinha bífida" contou o presidente da associação acrescentado que "a nível internacional está aconselhado às mulheres em idade de procriar que tomem um suplemento de ácido fólico".
Fonte: Lusa