Foi através da sustentabilidade e da digitalização que o projeto português S4Agro procurou aumentar a produtividade das empresas agroalimentares. A junção entre universidades e este setor permitiu criar soluções inovadoras e uma verdadeira rede de conhecimento.
Quase todos os portugueses considera que a agricultura e as áreas rurais são importantes para o futuro, segundo o último Eurobarómetro. Com esta preocupação também presente, um projeto português, S4Agro – Soluções Sustentáveis para o Setor Agroindustrial, quer transformar o setor agroindustrial numa indústria moderna e sustentável.
Viabilidade económica das empresas agroindustriais, salvaguarda de recursos, sustentabilidade ambiental e segurança de processos relacionados com a digitalização foram os quatro eixos definidos para o projeto S4Agro. Trata-se de “aumentar a produtividade, a eficácia e a eficiência” nas pequenas médias empresas deste setor nas regiões Norte, Centro e Alentejo, explica Pedro Dinis Gaspar, professor da Universidade da Beira Interior e responsável do projeto.
Esta ideia começou a ser desenvolvida em 2020, quando foi regulamentada na União Europeia a redução e limitação do uso das embalagens de plástico. “O setor agroindustrial português é muito constituído por pequenas e médias empresas e muitas delas lideradas por pessoas que até ao nível de idade ou de habilitações têm alguns constrangimentos. Portanto, havia aqui a necessidade de qualificar estas empresas para esta mudança que a União Europeia estava a obrigar”, explica.
Para colmatar as dificuldades do setor, o objetivo do S4Agro seria “reunir toda essa informação, analisá-la e torná-la acessível de uma forma simples e expedita a estes setores”. O projeto tornou-se numa espécie de rede de informação colaborativa entre a indústria e as universidades. “Há a necessidade de conseguirmos transferir a inovação de base científica e tecnológica para as empresas, porque [esta inovação] é, sem dúvida, uma pedra basilar para o aumento da sua competitividade”, descreve Pedro Dinis Gaspar.
Para tal, foram identificados no setor agroindustrial os “fatores críticos associados à redução e à valorização de desperdícios” para melhorar a eficiência produtiva e também reduzir o impacto ambiental. Com os problemas identificados foi criado um concurso de ideias para solucionar estes constrangimentos. “Recebemos propostas a nível nacional, depois os melhores projetos foram postos em contacto com as empresas para que efetivamente houvesse um resultado real e para que houvesse uma inovação nesta empresa, que permitisse aumentar ou melhorar a sua competitividade”, afirma o docente universitário.
Uma das propostas tratou-se de uma embalagem biodegradável para snacks feita com cascas de laranja. “É um desperdício do fruto” que pode ser transformada num pacote sustentável. “Como a laranja é um citrino, tem, por si só, uma capacidade antimicrobiana nata e é uma embalagem biodegradável”, explica.
Houve ainda a utilização de microalgas e plantas halófitas, tolerantes à salinidade, para a produção de chouriço tradicional para substituir os intensificadores de sabor, sal e emulsionantes. Enquanto, outra ideia criou um sistema autónomo para monitorização de insetos, que através da utilização de feromonas reunia os insetos e a visão computacional e algoritmos de inteligência artificial faziam a deteção dos mesmos.
Além da rede de conhecimento e deste concurso de ideias, um dos grandes focos foi a criação de embalagens mais ecológicas para produtos cárneos, hortofrutícolas, lácteos e de padaria, que também deveriam ser capazes de manter as características do produto durante um maior período. Uma das ideias que resultou deste projeto tratou-se de uma embalagem capaz de prolongar a vida útil das framboesas a partir de materiais que estabilizam a temperatura.
As soluções de embalamento desenvolvidas também deveriam ser rastreáveis desde o início da produção até à chegada ao local de consumo para garantir a melhor qualidade e a segurança alimentar, as chamadas embalagens inteligentes. “É cada vez mais importante saber quais foram as condições de armazenamento a que esse produto esteve sujeito, até mesmo para garantir a veracidade da origem de produção desse produto”, afirma Pedro Dinis Gaspar.
Além destes objetivos, o projeto comprometeu-se ainda a acelerar a inclusão das empresas na economia digital, salvaguardando a sua segurança. Como iniciaram o projeto durante a pandemia de Covid-19 assistiram a “uma mudança de paradigma naquilo que eram as vendas online”. A maioria das empresas com que o projeto trabalhou possuíam apenas uma página de internet para mostrar os seus produtos, “mas tiveram de se atualizar e de se desenvolver para vender os seus produtos online e isso acarreta a cibersegurança”.
Finalizado em 2023, continua a manter disponível a rede de informação através do site e já “catapultou” outros projetos, como uma embalagem para pescado, finalista no prémio de inovação do evento Expo Fish. “Todo este projeto acabou por ser um grande desafio, porque abordou várias facetas, tentando dar resposta a um conjunto de questões que se colocam ao setor agroindustrial, mas sempre dirigido a uma vertente da sustentabilidade”, diz ainda o docente universitário.
A ajuda imprescindível dos fundos comunitários
O projeto S4Agro foi constituído por um consórcio liderado pela Universidade da Beira Interior, em conjunto com o Instituto Politécnico de Leiria, de Coimbra, de Castelo Branco, da Guarda e de Viana do Castelo, Inovcluster - Associação do Cluster Agroindustrial do Centro e a Universidade de Évora. Para desenvolver as atividades, recebeu o financiamento de cerca de 794 mil euros através do programa COMPETE 2020, dos quais 675 mil euros provieram do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).
Pedro Dinis Gaspar não tem dúvidas de que os resultados atingidos com o S4Agro só foram possíveis devido ao financiamento comunitário. “Tivemos de desenvolver os conteúdos, tivemos de preparar o conhecimento, mas também capacitar as pessoas e as pequenas e grandes empresas do setor agroindustrial. Grande parte deste financiamento serviu para estas ações de capacitação, de disseminação, de divulgação dos resultados do projeto”, explica.
Fonte: Expresso