Se alguém pensar que inovação na agricultura é só sobre cultivar novas variedades de tomate ou batata ou aplicar fertilizantes de forma mais eficiente, está redondamente enganado. A tecnologia está a invadir os campos a uma velocidade impressionante e a ideia de que é um mundo simples e que a tecnologia ficou para trás está absolutamente errada. Quem é que disse que o agricultor não pode ser também um especialista em drones, inteligência artificial ou robôs? O futuro da agricultura já chegou — e parece que é mais tecnológico do que nunca.
E isso pode até explicar a escolha do Projeto Modular E, do INESC TEC, para vencedor do Prémio Inovação Agricultura 2024, atribuído pela Timac Agro. “Este projeto nasce num laboratório de robótica para a agricultura e floresta de precisão, dentro do instituto de investigação, que é privado mas sem fins lucrativos, e que se foca essencialmente nestas tecnologias. É aí que temos vindo a desenvolver este robô”, explica Filipe Santos, que se fez acompanhar por mais dois elementos da equipa, Luís Santos e André Aguiar.
O porta-voz do grupo não esconde que esta distinção “é mais do que motivadora”. “Temos um mote que é ciência com impacto. Temos trazido os valores para o terreno para provar que é possível ter robótica portuguesa, tecnologia portuguesa, desenvolvida em Portugal, com impacto para a agricultura portuguesa mas também mundial. E este é o reconhecimento desse trabalho, que muito nos orgulha e motiva”, realça.
Um robô barato e flexível que abraça todas as culturas
O robô é uma solução de baixo custo que permite transportar um conjunto alargado de equipamentos de agricultura de precisão. É ainda flexível, a ponto de poder acrescentar-se equipamento que seja necessário, e também poder ser adaptado a diferentes culturas. “É um veículo com grande versatilidade e autonomia, que neste domínio da robótica é fundamental. A agricultura de precisão é a ferramenta mais poderosa que nós temos hoje em dia para o uso mais eficiente dos recursos”, comenta Nuno Canada, presidente do INIAV e do júri.
Portugal ao “mais alto nível”
Rui Rosa, presidente da Vitas Portugal, reconhece que a inteligência artificial já chegou à agricultura e que, embora ainda haja muito para explorar nesta matéria, é já muito utilizada na área dos seguros agrícolas. E enaltece a qualidade das candidaturas apresentadas. “Para nós é uma grata recompensa. As candidaturas foram de excelente qualidade, diversificadas e em número muito apreciável”, afirma. Nesse sentido, está já a pensar na organização da 3ª edição deste prémio.
No encerramento do certame esteve João Moura, secretário de Estado da Agricultura. O governante lembra que Portugal “é do mais alto nível que existe no mundo inteiro com as suas técnicas, regras e hábitos de produção. Aquilo que se faz hoje no país é uma agricultura amiga do ambiente, que utiliza bem os recursos naturais, que os estima, preserva e conserva, e utiliza a mais alta tecnologia, como ficou aqui bem visível”. E acrescenta: “Há uma grande evolução científica, muito conhecimento científico nas práticas agrícolas, pelo que os portugueses podem estar descansados com a qualidade dos alimentos que consomem.” Ainda assim, vinca, “é importante transmitir estas coisas boas, coisas positivas, que muitas vezes são confundidas com imagens negativas quando é completamente diferente”. João Moura reconhece que “há um caminho a percorrer para passar a mensagem boa” e lamenta que, pelo caminho trilhado, sejam cada vez menos “os que se interessam pela agricultura e pelo mundo rural.”
Fonte: Expresso