A nova revolução tecnológica, os avanços da inteligência artificial, a blockchain e a Internet das Coisas (IoT), assim como a automação e o futuro do trabalho, o crescimento do e-commerce e a transição para uma economia sustentável, recorrendo a investimentos em energias renováveis, estão a marcar a indústria alimentar. Inflação, guerras e instabilidade geopolítica impulsionaram mudanças nos padrões de consumo, influenciando a forma como vivemos, nos comportamos e o que comemos. Não será diferente em 2025, diz a PortugalFoods.
Os consumidores continuam preocupados com o aumento dos preços, mas tendencialmente estão a mudar o foco no momento da compra dos alimentos, preferindo os frescos e de origem vegetal, os que trazem mais benefícios para a saúde e os que provocam experiências sensoriais diferenciadas, como texturas crocantes ou sabores exóticos.
A capacidade de melhorar a aparência física, assim como os benefícios que os alimentos podem trazer para a saúde mental e emocional, são fatores decisivos para os consumidores no momento da compra. Além disso, a procura por alimentos com base na experiência e no propósito torna os consumidores mais exigentes e atentos aos impactos das suas escolhas. O ato de comer, por si só, já não basta. Os consumidores procuram experiências únicas, com histórias para contar e partilhar nas redes sociais.
Trends 2025
Estas são algumas das conclusões que a consultora internacional Innova Market Insights, a convite da PortugalFoods, entidade gestora do Portuguese Agrofood Cluster, apresentou no seminário Trends 2025, que juntou na Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, no Porto, mais de 200 representantes da indústria agroalimentar e do sistema científico e tecnológico nacional. “Esta nova edição mostra que as tendências de consumo são, hoje, muito abrangentes e que os fatores de compra são múltiplos. Responder a este grau de exigência por parte dos consumidores é um desafio para a indústria. Sem dúvida, o sector agroalimentar português tem demonstrado uma capacidade notável de adaptação às tendências globais, mantendo-se dinâmico e inovador, investindo em tecnologia e sustentabilidade. A orientação para o mercado e a atenção às preferências dos consumidores têm sido fundamentais para o desenvolvimento de novos produtos e soluções”, refere Deolinda Silva, diretora executiva da PortugalFoods.
No seu entender, a grande revelação neste estudo é o papel que a inteligência artificial já está a ter na produção alimentar, com as empresas a começarem a identificar as possibilidades que esta ferramenta pode oferecer ao nível da segurança alimentar, bem-estar, inovação em novos sabores ou mesmo na sustentabilidade da produção. Simultaneamente, os consumidores estão cada vez mais focados na qualidade dos ingredientes, valorizando aspetos como frescura, benefícios nutricionais e naturalidade. “As marcas que enfatizam a qualidade superior das suas composições tendem a destacar-se no mercado. Adicionalmente, a conjuntura mundial e as novas formas de viver vieram alterar determinantemente a forma como nos comportamos em relação à alimentação, valorizando os momentos, junto de familiares e amigos, e reforçando a velha máxima de que menos é mais”, refere, por sua vez, Enric Tardio, da Innova Market Insights, consultora que anualmente monitoriza o comportamento do consumidor e o lançamento de novos produtos a nível global, desenvolvendo uma análise aprofundada às principais tendências de consumo e apontando as oportunidades de inovação para a indústria e para as marcas alimentares.
10 grandes tendências
Num contexto em que os consumidores pretendem cuidar de si e do planeta, a indústria deve, no seu portefólio de produtos e na sua comunicação, realçar a presença de determinados ingredientes, como se pode verificar nas 10 grandes tendências que vão impactar o sector agroalimentar em 2025 e a médio prazo.
À medida que a procura de produtos de valor acrescentado aumenta, é fundamental relevar a qualidade, para além dos ingredientes. A tendência Ingredients and Beyond sublinha que a qualidade do produto é o fator mais importante para os consumidores, com 50% a 60% dos inquiridos a valorizar o preço e a frescura dos alimentos, 40% a 50% a realçar os benefícios para a saúde, 30% a 40% a atribuir importância ao prazo de validade, naturalidade e teor nutricional dos alimentos e menos de 30% a valorizar as marcas.
Já a tendência Precision Wellness mostra que a quantidade de informação ao dispor do consumidor eleva a fasquia no desenvolvimento de produtos, desafiando as marcas a satisfazerem necessidades nutricionais específicas, em qualquer fase do ciclo de vida. As marcas direcionam a sua inovação na resposta a necessidades específicas do consumidor, em termos de saúde, como, por exemplo, o controlo do peso, o que originou, no ano passado, um aumento de 10% no lançamento de novos produtos com esta finalidade.
Wildly Inventive sublinha que os consumidores procuram o extraordinário e o diferente, levando as empresas a apresentarem novos produtos com misturas surpreendentes e que proporcionam o efeito “uau”. 43% dos inquiridos afirma procurar fórmulas “fora da caixa”, que proporcionem experiências únicas e inesquecíveis, e 40% continua a privilegiar o sabor. Entre as combinações improváveis que despertam mais a atenção dos consumidores, 36% afirma serem os preparados para sobremesas, 32% os alimentos que combinam lanche e prato principal e, na mesma proporção, os alimentos que misturam o salgado e o doce.
A crescente consciencialização sobre o microbioma humano coloca a fibra no centro das atenções e da tendência Flourish From Within. No último ano, verificou-se um crescimento de 8% no lançamento de alimentos e bebidas com ligação à saúde digestiva ou intestinal. A saúde gastrointestinal é o que motiva a compra deste tipo de produtos: alimentos e bebidas funcionais, ricos em fibras, vitamina D e probióticos. Regista-se um aumento de 24% no aparecimento de novos produtos/snacks que incluem especificamente probióticos na sua composição.
Paralelamente, a falta de naturalidade percebida de alguns produtos de base vegetal tem sido uma barreira para o crescimento desta categoria, com 35% dos inquiridos a indicar este critério como determinante na hora da compra. Ainda assim, registou-se um aumento de 23% no lançamento de alimentos e bebidas vegan ou de base vegetal, que colocam a naturalidade como argumento de comunicação/venda e no centro da tendência Rethinking Plants.
Já Climate Adaptation reflete que as práticas que minimizam o impacto ambiental são valorizadas, influenciando diretamente as decisões de compra. Quase metade dos inquiridos neste estudo estão muito ou extremamente conscientes do impacto das alterações climáticas em produtos como o café, o azeite ou o chocolate e este impacto é sentido, sobretudo, no aumento dos preços, impactando as vendas. E se, no caso do café, os consumidores afirmam que continuarão a comprar mesmo num cenário de aumento do preço, o mesmo já não acontece, por exemplo, com o chocolate, em que a tendência será de reduzir ou mesmo não comprar.
Paralelamente, à medida que os consumidores procuram soluções que agreguem benefícios para a saúde e beleza, produtos que promovam benefícios para a imagem tornam-se mais populares entre os consumidores, como mostra a tendência Taste the Glow. Um em cada cinco inquiridos afirma que, no ano passado, comprou alimentos e bebidas com efeitos benéficos para a sua aparência. O foco está, sobretudo, na pele (face e corpo) e cabelo e as gerações mais jovens, com uma preocupação acrescida em termos de imagem e saúde da pele, motivaram o aumento de 15% no lançamento de alimentos, bebidas e suplementos, com atributos funcionais. Esta é uma preocupação com diferente impacto nas várias gerações de consumidores: 27% da Geração Z tem-a, 25% da Geração Y também, na Geração X são 17% e apenas 13% na geração Boomer privilegia mais a saúde do que a imagem nas suas escolhas.
Tradition Reinvented, por sua vez, mostra como num mundo em constante evolução, os consumidores desejam redescobrir sabores da sua herança culinária, abraçando a autenticidade e a tradição. Quase um em dois dos consumidores, a nível mundial, considera que é importante consumir alimentos que expressam a sua herança/tradição e a diversidade de culturas alimentares. 65% gostaria de ver mais receitas antigas e tradicionais nas prateleiras dos supermercados, ao passo que 64% afirma querer experimentar novos produtos com sabores antigos ou inspirados em receitas tradicionais. Esta é uma oportunidade para as empresas criarem ligações mais próximas com o consumidor nostálgico.
Simultaneamente, os consumidores optam, cada vez mais, por alimentos que influenciam positivamente o humor e o bem-estar mental, estabelecendo ligação direta entre dieta e saúde emocional, como refletido na tendência Mood Food: Mindful Choices. Para as marcas, este é o momento de apostar no lançamento de produtos que se ligam sentimentalmente aos consumidores. 36% dos inquiridos afirma que sentir-se bem mental ou emocionalmente é o principal objetivo de saúde. Esta é uma oportunidade para a indústria explorar a utilização de ingredientes como vitaminas e minerais, demonstrando o seu benefício. Destacam-se cinco nutrientes principais a considerar nos alimentos e bebidas que visam melhorar a saúde mental: vitaminas B6, B9 e B12, vitamina D, vitamina C, magnésio e vitamina E. 51% dos novos lançamentos de alimentos e bebidas monitorizados, que alegam benefícios para o cérebro, possui vitamina B.
Finalmente, como mostra a tendência Bytes to Bites, as empresas começam a desbloquear todo o poder da inteligência artificial, passando do reconhecimento das suas potencialidades para aplicações concretas, que elevam as experiências dos consumidores. No ano passado, registou-se um crescimento exponencial (720%) de novos lançamentos de produtos alimentares criados pela IA. As empresas começam já a identificar as possibilidades que a inteligência artificial oferece, sobretudo, em quatro domínios: segurança alimentar, como a deteção da deterioração de sumo de fruta e leite; bem-estar, com o desenvolvimento de novas formulações, como novos adoçantes para bebidas; inovação em sabores e sustentabilidade (por exemplo, uma cadeia de distribuição alimentar passou a vender, pastinacas/cherovias cultivadas de forma autónoma, recorrendo exclusivamente ao controlo por sistemas que utilizam IA, drones, sensores e equipamentos robotizados, para garantir a eficiência do ciclo produtivo, reduzindo simultaneamente as emissões de carbono e melhorando a qualidade das culturas).
Fonte: Grande Consumo