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Filas para pôr gasolina e medo de que faltem perus no Natal: o que está a provocar o caos nas cadeias de abastecimento do Reino Unido?
2021-09-28

O Governo britânico vai negando: não, nada disto tem que ver com o Brexit. Os que ainda não esqueceram o referendo que afastou o Reino Unido da União Europeia não têm dúvidas: é precisamente essa decisão que está a causar a falta de combustíveis e produtos perecíveis que se está a começar a fazer sentir com mais frequência no país - é que, sem pessoas para trabalhar na agropecuária e na agricultura e sem pessoas para transportar materiais perigosos em poucos dias, a escassez começa a ver-se nas prateleiras dos supermercados.

Muitos empresários e representantes dos sectores dos transportes e alimentação criticam o Governo britânico por não ter conseguido antever o facto de que as novas regras do Brexit iriam deixar de permitir a entrada livre de europeus - que eram a principal força de trabalho em alguns sectores com grande necessidade de trabalhadores menos qualificados. Para o Governo britânico, a culpa é mesmo da pandemia.

"O problema é mundial e seguramente [existe] em toda a Europa. Na verdade, o Brexit ajudou a encontrar algumas das soluções", argumentou o ministro dos Transportes, Grant Shapps, à BBC, no início da semana passada. O ministro referiu que as alterações feitas recentemente para aumentar o número de exames de condução para veículos pesados, reduzindo algumas formalidades ou eliminando requisitos técnicos, "não poderiam ter sido feitas na UE". Na mesma entrevista, Shapps disse que a pandemia é “a principal razão” para estes atrasos. Por outro lado, a pandemia impediu a formação de muitos condutores britânicos, pelo que a falta de europeus ainda se fez sentir mais.

ABASTECIMENTO DE COMBUSTÍVEL COM PROBLEMAS

Alguns postos de gasolina no Reino Unido foram forçados a fechar. A BP disse na quinta-feira, citada pelo “Guardian”, que cerca de 100 das suas bombas de gasolina estavam com falta de pelo menos um tipo de combustível, com várias forçadas a fechar totalmente devido à falta de entregas. A Esso também informou que alguns dos seus postos de abastecimento, que funcionam adjacentes à cadeia de supermercados Tesco Express, foram afetados.

Brian Madderson, presidente da Associações dos Revendedores de Combustível, disse à Associated Press que dois terços dos seus 5500 membros relataram ter ficado sem combustível durante o fim de semana. Membros do exército estão a ser treinados para o transportes de combustíveis mas Madderson ainda não recebeu do Governo qualquer data indicativa para o início dos turnos destes soldados.

Durante o fim de semana, vídeos aéreos mostraram na televisão e nas redes sociais as enormes filas nas bombas de gasolina de todo o país - o que, por sua vez, levou ainda pessoas a procurar abastecer os seus veículos. Rod McKenzie, da Associação de Transportadores do Reino Unido, acusou o Governo de “liderar por inércia”. Citado pelo "Guardian", acrescentou que uma forma de resolver o problema seria atribuir “vistos sazonais” para motoristas estrangeiros. Uma solução que muitos sectores, não só o dos transportes de mercadorias, têm repetidamente endereçado ao Governo do primeiro-ministro, Boris Johnson.

No sábado o Executivo acabou por ceder: vão ser emitidos 5000 vistos temporários, cuja vigência acaba na véspera de Natal. Tão rápida quanto a decisão foi a crítica: muitos empresários já vieram dizer que vistos específicos para a época de Natal e apenas destinados a um sector não são a solução duradoura de que a cadeia de abastecimento britânica precisa. Além disso, Grant Shapps já tinha dito, numa carta ao deputados, que não defende o colmatar de lacunas laborais com "mão de obra estrangeira".

UM MILHÃO DE EMPREGOS POR PREENCHER

Um relatório recente da consultora Grant Thorntonrelatório recente da consultora Grant Thornton concluiu que há quase um milhão de vagas no Reino Unido. Metade destas vagas encontra-se nos sectores de restauração, hotelaria e entregas, indústrias que nas últimas duas décadas dependeram fortemente da força de trabalho da UE.

O mesmo relatório revelou que 1,3 milhões de trabalhadores que deixaram o Reino Unido quando a pandemia começou e ainda não regressaram. “A hipótese de que as cadeias de abastecimento de alimentos possam chegar ao ponto de rutura é real”, lê-se no estudo. Isto porque as falhas afetam todas as etapas da produção: da pessoa que apanha a fruta até à pessoa que serve a sobremesa feita com essa fruta. Por isso, dizem os críticos, mesmo que se encontre forma de levar o combustível às bombas de gasolina, é pouco provável que isso resolva o problema das fábricas de processamento de carne, do retalho, da assistência social, principalmente a idosos, do sector da limpeza, lares e até de empresas como a Amazon - todos estão a competir para conseguir contratar pessoas por salários relativamente baixos, para tarefas que não exigem de quem as venha a executar habilitações académicas específicas.

“AS PESSOAS QUE COSTUMÁVAMOS TER AQUI A DEPENAR E EMBALAR OS NOSSOS PERUS JÁ NÃO PODEM ENTRAR”

O Reino Unido pode enfrentar uma “escassez nacional” de perus no período que antecede o Natal, causada pela falta de mão de obra após o Brexit, disse também à Associated Press a diretora da Associação de Produtores Tradicionais de Peru, Kate Martin.

As pessoas que comprarem perus nas pequenas quintas perto de onde vivem, e que funcionam como negócios familiares, possivelmente não terão problema em guarnecer a mesa do tradicional peru com nozes, arandos e outros recheios, mas, segundo Martin, “as prateleiras dos supermercados provavelmente vão ver-se mais vazias”. Os membros da associação de Martin receberam até agora cinco vezes mais pedidos do que no mesmo período do ano passado.

E não é apenas a mão de obra em si: o dióxido de carbono para atordoar os animais para abate e o gelo seco para manter os produtos frescos também está a faltar.

“A razão de estarmos a viver todos esses problemas é inteiramente por causa do Brexit e nada mais”, disse ao “Business Times” Paul Kelly, dono de uma das principais quintas de produção de peru em Essex, no sudeste de Londres. “As pessoas que costumávamos ter aqui a depenar e embalar os nossos perus já não podem entrar.”

O principal partido da oposição, o Partido Trabalhista, não tem feito uma forte oposição ao Governo porque a palavra ‘Brexit’ adquiriu a força de uma maldição. Mas Andrew Adonis, membro das Câmara dos Lordes e um dos mais ferozes defensores da UE dentro dos trabalhistas, escreveu recentemente no seu blogue que não consegue entender a posição do seu partido: “É inacreditável que uma organização que se apelida ‘oposição’ não possa opor-se ao estado de coisas porque não se atreve a mencionar a palavra ‘Brexit’.

Fonte: Expresso

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