Sem que saiba disso, pode estar a pagar mais dinheiro por um peixe que é, afinal, mais barato, e que foi mal rotulado. Pode mesmo estar a consumir uma espécie protegida. Mas há formas de se precaver.
Se come marisco, pode estar a consumir, sem saber, uma espécie em vias de extinção sem se aperceber, devido à rotulagem incorreta do peixe. Este problema é mundial e acontece quando a espécie de peixe que pensamos estar a comprar não é a que realmente recebemos.
Pode não ser uma situação intencional, mas também é possível que os vendedores inflacionem o preço do produto que vendem, chamando-lhe outra coisa. E não é fácil desmascarar os mentirosos.
Um produto do mar foi considerado incorretamente rotulado se foi vendido com um nome que não consta da lista de peixes para a espécie identificada pelo ADN.
Mas a Lista de Peixes é vaga e permite a utilização de nomes ambíguos, o que significa que o mesmo nome pode ser aplicado a várias espécies. O pargo, por exemplo, pode referir-se a 96 espécies diferentes, o atum a 14 e o bacalhau a duas.
Têm sido desenvolvidos estudos variados neste sentido, que descobriram que o problema é bem mais sério do que pensávamos.
Um dos mais recentes é de setembro deste ano, e investigou a rotulagem incorreta e os nomes de mercado ambíguos em produtos de invertebrados e peixes ósseos — peixes com barbatanas, como o bacalhau, o salmão e o atum — em Calgary, no Canadá, entre 2014 e 2020.
Estudantes universitários recolheram amostras de 347 produtos de peixe e 109 de marisco — que incluem camarão, polvo e ostras — de restaurantes e mercearias de Calgary. Estas amostras foram depois testadas geneticamente utilizando um marcador específico da espécie chamado código de barras de ADN.
E as descobertas foram surpreendentes. Em Calgary, 1 em cada 5 rótulos de peixe estão mal colocados. 100% do pargo, por exemplo, estava mal rotulado.
E mais: ficaria contente ao descobrir que está a comer um peixe ameaçado? Três produtos de bacalhau do Pacífico analisados pelos jovens foram identificados como sendo bacalhau do Atlântico, que está listado como vulnerável pela União Internacional para a Conservação da Natureza. Também dois produtos de enguia foram identificados como sendo a enguia europeia, em perigo crítico de extinção.
Para além de pôr em causa espécies ameaçadas e inflacionar o preço de peixe que, afinal, não é assim tão caro, esta situação pode mesmo colocar a sua saúde em risco. Um dos jovens comprou “atum branco” num buffet de sushi e acabou por ir parar ao hospital — era, afinal, escolar, um peixe prejudicial à digestão.
Como evitar ser enganado?
Se comer marisco, a situação é mais difícil de evitar, uma vez que muitos deles se encontram sob ameaça e por vezes é difícil de distinguir quais das espécies estamos a comprar.
No entanto, uma dica é comprar produtos do mar que sejam certificados como sustentáveis, uma vez que estes demonstraram ter taxas mais baixas de rotulagem incorreta.
Para além disso, é mais difícil rotular incorretamente peixes inteiros e com cabeça, pelo que deve optar por comprar estes, caso consiga.
Tente também adquirir produtos que indiquem claramente a espécie exata que está a ser comprada. Por vezes, este tipo de produtos pode sair mais caro, mas se o conseguir fazer, está a arriscar menos não apenas ser enganado, como sacrificar a sua saúde.
Fonte: AEIOU