Cientistas afirmam que uma base de dados criada no âmbito de um projeto europeu pode melhorar a segurança alimentar.
A base de dados de metagenomas alimentares foi desenvolvida no âmbito do projeto MASTER, financiado pela UE. Os metagenomas são o material genealógico de todos os microrganismos presentes num ambiente.
A curatedFoodMetagenomicData (cFMD) é uma base de dados de metagenomas de alimentos. As tecnologias de sequenciação de ADN ajudarão os investigadores a enfrentar desafios como o desperdício alimentar, a resistência antimicrobiana e a segurança alimentar.
Os microrganismos podem ter um impacto positivo na produção alimentar, por exemplo, através da fermentação dos alimentos, ou um impacto negativo na produção alimentar, por exemplo, através da deterioração ou de doenças de origem alimentar.
A análise destes microrganismos baseou-se em abordagens tradicionais que requerem o crescimento dos microrganismos em ágar em placas de Petri, com diferentes ágares utilizados para diferentes microrganismos.
Benefícios para a segurança alimentar
Os cientistas afirmam que a utilização de métodos de sequenciação de ADN de alto rendimento pode melhorar os testes alimentares. Este método permite efetuar testes rápidos e simultâneos a todos os microrganismos em paralelo, incluindo aqueles que são difíceis de cultivar.
O trabalho incluiu testes de ADN de milhares de amostras recolhidas em instalações europeias de transformação de alimentos. A base de dados significa que os dados gerados a partir da análise de amostras de alimentos com base na sequenciação do ADN podem ser analisados com rapidez e precisão para identificar e controlar microrganismos indesejáveis.
O projeto MASTER envolveu 30 parceiros e teve início em janeiro de 2019. Terá a duração de quatro anos e utilizará tecnologias de sequenciação para mapear microbiomas numa série de ambientes alimentares e não alimentares.
O coordenador do projeto, Professor Paul Cotter, responsável pelas biociências alimentares na Teagasc (Autoridade Irlandesa para o Desenvolvimento Agrícola e Alimentar), afirmou que os dados representam 15 categorias de alimentos de 52 países.
“O cFMD contém dados relativos a 3.600 espécies microbianas, das quais 290 são espécies novas. É gratuito e pode ser amplamente utilizado para estudos do microbioma e aplicações nas indústrias alimentares. Por exemplo, estudar o movimento dos microorganismos ao longo da cadeia alimentar, estudar a propagação de genes de resistência antimicrobiana, detetar microorganismos indesejáveis e investigar a transmissão de microorganismos aos seres humanos. A disponibilidade do cFMD representa um passo importante em direção a um futuro em que a sequenciação metagenómica poderá substituir a microbiologia clássica como uma ferramenta mais precisa e mais rápida de rastreio de microorganismos na cadeia alimentar”.
Investigação relacionada
Foi publicado um estudo na revista Cell. Este, foi liderado por equipas da Universidade de Trento e da Universidade de Nápoles Federico II, em Itália, da Teagasc, na Irlanda, do Conselho Nacional de Investigação espanhol e da Universidade de Leon, em Espanha, da MATIS, na Islândia, e da FFoQSI, na Áustria, com outros colaboradores.
O Professor Danilo Ercolini, do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade de Nápoles Federico II, afirmou: “A disponibilidade de um conjunto de dados tão grande, incluindo metagenomas alimentares e genomas de micróbios alimentares, vai representar um recurso essencial para muitos cientistas alimentares explorarem melhor a ocorrência e o papel dos microorganismos nos alimentos e nas instalações de processamento de alimentos, com o objetivo final de melhorar a qualidade, segurança e sustentabilidade dos alimentos”.
A maioria das espécies que se sabe serem preocupantes para a transmissão alimentar foram raramente encontradas nos alimentos analisados, mas a Listeria monocytogenes foi detectada uma vez e o Clostridium perfringens três vezes. Os investigadores detectaram centenas de espécies não caracterizadas no microbioma alimentar.
“O isolamento direcionado e a caraterização funcional destes microorganismos alimentares que detetámos apenas por metagenómica devem ser o próximo passo para explorar ainda mais o seu papel no processamento, qualidade e segurança alimentar. Os nossos resultados apoiam a tipagem molecular, o que significa desenvolver certificações de autenticidade e origem dos alimentos com base na especificidade microbiana”, afirmaram.
Fonte: Food Safety News & Qualfood