A Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa | NOVA FCT integra o consórcio do projeto europeu IASIS, recentemente financiado pela União Europeia, durante 4 anos, que tem como objetivo recuperar terrenos contaminados e com elevados níveis de salinidade que contribuem para a degradação do solo e para a redução da produtividade agrícola.
O projeto tem a coordenação europeia do Center for Renewable Energy Sources and Saving (CRES), que envolve 18 parceiros de sete países europeus, com o objetivo principal de reestruturar terrenos danificados ou improdutivos para aumentar a área agrícola europeia, recorrendo a um processo chamado phytomanagement, que consiste na aplicação de plantas e microrganismos capazes de tolerar e remover contaminantes do solo, ao mesmo tempo que regeneram as suas propriedades.
A investigação vai incidir em terrenos que apresentam contaminação por metais pesados, pesticidas ou salinidade extrema, características que afetam diretamente a sua capacidade de sustentar a agricultura ou qualquer outra utilização produtiva. O projeto pretende testar estas soluções em diversos locais-piloto distribuídos pela Europa – Grécia, Polónia, França, Bélgica, Portugal e Itália, onde as condições de degradação são mais severas. Nestes locais, serão plantadas espécies selecionadas pela sua capacidade de resistir à salinidade ou a alguns poluentes, com o apoio de microrganismos que aumentam a capacidade de absorção de nutrientes pelas plantas e ajudam a estabilizar o solo.
A equipa de investigadores da NOVA FCT, liderada por Ana Luísa Fernando, professora do Departamento de Química e coordenadora do centro de investigação METRICS da NOVA FCT, vai trabalhar na identificação das melhores combinações de plantas e microrganismos que possam ser aplicadas para a recuperação de solos, e vai monitorizar os resultados obtidos nos locais-piloto, avaliando a eficiência das soluções implementadas em termos de melhoria da qualidade do solo, absorção de contaminantes e capacidade de produção de biomassa.
“O IASIS traz consigo uma série de benefícios a longo prazo, especialmente para a agricultura e a economia portuguesa. Ao reabilitar terrenos até agora considerados inutilizáveis ou improdutivos, abre-se a possibilidade de aumentar a área de cultivo disponível, o que é particularmente relevante num país como Portugal, onde a desertificação do solo está a aumentar devido às alterações climáticas”, defende a investigadora Ana Luísa Fernando, da NOVA FCT. “Adicionalmente, a produção de biomassa em solos degradados e a sua recuperação pode alimentar inúmeras indústrias emergentes, como a bioenergia e a produção de materiais sustentáveis, contribuindo para a diversificação da economia nacional e redução da dependência externa de matérias-primas convencionais e de base fóssil”.
A acumulação de sais no solo e a contaminação por substâncias químicas resultam, muitas vezes, de práticas agrícolas intensivas, da poluição industrial ou de fenómenos naturais como a erosão e a desertificação. Estes fatores causam danos extensivos aos ecossistemas locais, reduzem a qualidade da água e tornam o solo impróprio para produção agrícola. Para a economia e agricultura portuguesas, em particular, este tipo de degradação tem impacto direto na produtividade, afetando tanto a qualidade dos alimentos como a viabilidade de áreas agrícolas.
A investigação levada a cabo no âmbito do IASIS visa, por um lado, regenerar esses terrenos para que possam voltar a ser utilizados e, por outro, transformar esses locais em áreas produtivas para outros fins, como a produção de biomassa. A biomassa gerada a partir destas plantas não comestíveis (industriais), poderá ser utilizada como matéria-prima para a criação de produtos de base biológica, incluindo bioenergia e bioplásticos, fomentando assim a bioeconomia e a economia circular, onde resíduos e terrenos abandonados se tornam recursos úteis para a indústria.
O projeto alinha-se com as estratégias europeias e nacionais de transição para uma economia mais verde e circular, onde a inovação científica desempenha um papel crucial. A utilização de tecnologias de phytomanagement, combinadas com bioengenharia, posiciona o projeto IASIS como uma referência no campo da recuperação e do desenvolvimento sustentável.
Fonte: NOVA FCT