23 de Novembro de 2024
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Quais os alimentos em maior risco climático?
2024-10-29

Arroz

O arroz é o principal alimento de mais de metade da população mundial, especialmente na Ásia. A sua produção é, por isso, fundamental para garantir a segurança alimentar à escala global.

Os produtores de arroz têm vindo a sentir os efeitos das alterações climáticas. O problema tem múltiplas causas: por vezes, as culturas são afetadas por secas, outras vezes por inundações. O aumento da salinidade devido à intrusão de água é outra ameaça.

No ano passado, por exemplo, Itália – que produz cerca de 50% do arroz de toda a União Europeia – lançou avisos sobre a queda da produção de arroz, devido a dois anos consecutivos de seca.

Na Índia, o maior fornecedor de arroz do mundo, as monções de 2023 foram tardias, com chuvas mais intensas e prolongadas. Preocupações com a escassez levaram o país a impor embargos à exportação, provocando uma forte inflação nos preços.

Azeitonas e azeite

Sobretudo concentrada no Mediterrâneo, a produção de azeitonas e, consequentemente, de azeite, também está em risco devido à crise climática. Vagas de calor e secas prolongadas têm impactado as colheitas, fazendo disparar os preços e afetando outros produtos que dependem do azeite, como alguns tipos de enlatados.

De acordo com o International Olive Council, composto por 46 países responsáveis por 94% do azeite mundial, a produção global caiu perto de um terço entre 2021 e 2024.

O azeite tornou-se o “produto mais roubado nos supermercados de Espanha”, devido ao seu custo elevado. Espanha é o país que mais azeite produz no mundo.

Batatas

As batatas também estão sob ameaça climática, com a produção global a ser prejudicada por temperaturas elevadas, secas prolongadas e inundações.

Em 2023, países como a Bélgica, Holanda, França e o Reino Unido foram afetados por chuvas fortes que encharcaram campos de cultivo de batatas, impossibilitando a colheita. A queda histórica na produção fez disparar os preços, nomeadamente na Europa, que registou o valor mais alto em 14 anos.

A North-Western Europe Potato Growers estima que, no ano passado, 650 mil toneladas métricas de batatas não chegaram ao mercado do noroeste europeu. Citada pela Bloomberg, a organização alertou para uma diminuição de 20% na disponibilidade de sementes para 2024.

Noutras regiões do mundo, como na América do Sul, padrões climáticos erráticos e temperaturas sem precedentes também têm afetado o cultivo de batata, comprometendo a segurança alimentar. É o caso da Bolívia, onde uma combinação fatal de seca e geada destruiu colheitas no ano passado.

Cacau

O cacau, ingrediente essencial à produção de chocolate, também está sob ameaça. Em março passado, os preços do cacau atingiram níveis históricos, mais do que triplicando em apenas um ano.

Condições climáticas extremas, aliadas ao El Niño, causaram a queda nos níveis de produção e um aumento dos custos, concluiu um relatório da Energy & Climate Intelligence Unit, grupo ambiental britânico.

“Em última análise, se quisermos evitar que estes extremos se agravem, temos de atingir emissões líquidas nulas”, declarou, à data, Amber Sawyer, analista da organização. “Há limites para as condições em que as culturas podem crescer.”

Café

Cultivado principalmente em regiões tropicais, o café é um dos produtos agrícolas mais sensíveis às alterações climáticas. Temperaturas mais elevadas e chuvas irregulares estão a diminuir as áreas adequadas ao cultivo de café, especialmente da espécie arábica, que representa 70% da produção mundial.

Um estudo publicado na revista científica PLOS ONE estima que até 2050, as áreas propícias ao cultivo de arábica podem ser reduzidas em até 50%. “O seu café está em risco”, disse o autor principal e cientista ambiental Roman Grüter, à Time. “Não diria que poderá deixar de haver café, mas será necessário adaptarmo-nos às novas condições.”

Peixe e marisco

Os impactos das alterações climáticas não se limitam à terra. Os oceanos, hoje mais quentes do que nunca, também têm vindo a ser afetados. A par da subida das temperaturas das águas, a acidificação e a diminuição dos níveis de oxigénio afetam as populações de peixes e mariscos.

Espécies como o bacalhau, o atum e os crustáceos estão a ver os seus habitats e padrões migratórios alterados, o que pode levar à redução das capturas e, consequentemente, à escassez de recursos alimentares.

No seu último relatório, o Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC) concluiu que o aquecimento dos oceanos no século XX já conduziu a uma “diminuição global do potencial máximo de captura”, agravando os efeitos da sobrepesca em algumas populações de peixe.

Além disso, concluiu que o aquecimento e a acidificação dos mares afetaram negativamente a aquicultura e a pesca de moluscos.

Trigo

O trigo é um dos cereais mais consumidos no mundo, sendo um alimento básico em muitas dietas. No entanto, a produção global de trigo já tem sido afetada por condições climáticas adversas que prejudicam o rendimento das culturas.

Num artigo publicado na Environmental Research Letters, um grupo de cientistas estima que as alterações climáticas vão reduzir a produção global de trigo em 1,9% nas próximas décadas. Os impactos vão fazer-se sentir sobretudo em África e no Sul da Ásia, que já sofrem problemas de insegurança alimentar.

Outro estudo também associa as alterações climáticas ao chamado oídio do trigo, doença fúngica destrutiva. A análise publicada na revista Nature estima que até 2050 a crise climática agrave a doença, ameaçando 13,5 milhões de hectares de terras cultivadas.

Vinho

A crise climática também tem impactado a vinicultura. De acordo com a International Organization of Vine and Wine (OIV), a produção mundial de vinho diminuiu 10% no ano passado, a maior queda em mais em seis décadas.

“Condições climáticas extremas e doenças fúngicas generalizadas afetaram gravemente muitas vinhas em todo o mundo, culminando numa produção mundial de vinho historicamente baixa”, observou a organização num relatório divulgado em abril.

Apesar de reconhecer que a crise climática não é a única responsável pela queda, o diretor da OIV, John Barker, sublinha que “o desafio mais importante que o setor vitivinícola enfrenta são as alterações climáticas”.

Citado pela France 24, Barker deu conta dos problemas enfrentados, nomeadamente “a seca, o calor extremo e os incêndios, bem como as chuvas fortes que provocaram inundações e doenças fúngicas nas principais regiões produtoras de vinho do hemisfério norte e sul”.

Soja

Fundamental para a alimentação humana, mas também para a produção de rações animais e biocombustíveis, a soja também tem sido afetada pela crise climática.

Na Argentina, por exemplo, a seca fez com que o volume de soja esmagada caísse 27% entre janeiro e agosto de 2023, em comparação o período homólogo do ano anterior, para o seu nível mais baixo desde 2015. O país teve de importar uma quantidade recorde da colheita dos países vizinhos Paraguai, Bolívia e Brasil, a fim de manter as suas fábricas de trituração abertas.

Já nos Estados Unidos, estima-se que a produção diminua até 24% em relação às suas tendências normais de crescimento até ao final do século XXI, por causa das alterações climáticas.

Fonte: GREEN EFACT

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