A poluição do planeta através de microplásticos está a reduzir a capacidade das plantas no processo da fotossíntese, o que reduz significativamente o abastecimento de alimentos, uma vez que prejudica os sistemas agroalimentares a nível mundial, segundo um novo estudo da Universidade de Nanjing, na China.
A análise estima que entre 4% e 14% das culturas de trigo, arroz e milho a nível global foram perdidas devido à contaminação por microplásticos, mas “a situação pode piorar”, alertaram os cientistas, à medida que mais microplásticos se vão disseminando no meio ambiente.
Segundo a equipa responsável pelo estudo, a Ásia foi a mais atingida por perdas nas culturas de cereais, que se situam entre os 54 milhões e 177 milhões de toneladas por ano, cerca de metade das perdas mundiais. O trigo na Europa também foi “duramente atingido”, assim como o milho nos Estados Unidos da América (EUA).
Já nos oceanos, a perda de peixes foi estimada entre 1 milhão e 24 milhões de toneladas por ano, cerca de 7% do total e proteína suficiente para alimentar dezenas de milhões de pessoas, avança os cientistas.
“É importante ressalvar que estes efeitos adversos impactam a segurança alimentar do planeta”, comentou Huan Zhong, um dos autores da investigação e docente da Universidade de Nanjing, explicando que “a fotossíntese reduzida devido aos microplásticos também pode estar a diminuir a quantidade de CO2 retirado da atmosfera pelas plantas, o que desequilibra os ecossistemas”.
As perdas anuais nos cultivos, causadas por microplásticos, podem estar numa escala semelhante às causadas pela crise climática nas últimas décadas, referiram os cientistas responsáveis pelo estudo. “O mundo já enfrenta o desafio de produzir alimentos suficientes e de forma sustentável, com a expectativa de que a população mundial continue a aumentar e cresça em 10 mil milhões de pessoas por volta de 2058”, enfatizou Huan Zhong.
Os microplásticos impedem que as plantas aproveitem a luz solar para crescer, assim como também danificam os solos, os cientistas enfatizam que “as partículas estão a infiltrar-se um pouco por todo o planeta, desde o Monte Everest até aos oceanos mais profundos”.
“A humanidade tem vindo a se esforçar para aumentar a produção de alimentos, de forma a alimentar uma população cada vez maior, [mas] esses esforços contínuos estão agora a ser prejudicados pela poluição a partir do plástico”, afirmou Huan Zhong. “As descobertas ressalvam a urgência [de reduzir a poluição] para proteger o abastecimento global de alimentos diante da crescente crise do plástico”.
O cientista adianta ainda que o impacto dos microplásticos estende-se também aos corpos humanos, que já estão “amplamente contaminados”, seja através de alimentos ou água.
Denis Murphy, da Universidade de South Wales, no Reino Unido, referiu que “esta análise é valiosa e bastante oportuna para nos lembrar dos perigos potenciais da poluição por microplásticos e da urgência de abordar o problema. No entanto, são ainda precisas mais investigações antes que estes dados possam ser aceites de forma robusta”.
O novo estudo, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, combinou mais de 3.000 observações sobre o impacto dos microplásticos nas plantas, estudadas a partir de 157 estudos.
Fonte: Vida Rural