Durante a vindima de 2024, técnicos e viticultores da Península de Setúbal, de Borba, Estremoz, Vidigueira e Cartaxo, foram surpreendidos, durante o período de maturação, por danos severos nos cachos associados a ataques de traças, apesar da aplicação oportuna de tratamentos para controlo da traça-da-uva, Lobesia botrana. Esta situação suscitou diversas dúvidas quer sobre a eficácia dos produtos fitossanitários utilizados, quer sobre a possibilidade da existência de insetos resistentes ou da ocorrência de uma quarta geração da traça-da-uva.
Identificação de uma nova ameaça: Cryptoblabes gnidiella como praga emergente
Foram recolhidas amostras de cachos (com lagartas e pupas) nas vinhas onde foram detetados os danos, as quais foram posteriormente enviadas para o Instituto de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), onde através de análises morfológicas detalhadas e identificação molecular, foi confirmada a presença de Cryptoblabes gnidiella (Lepidoptera: Pyralidae). Esta é uma traça nativa do mediterrâneo, já referenciada em Portugal desde os anos 1990 noutras culturas (citrinos) e considerada uma praga secundária na vinha, aparecendo nesta como consequência de ataques de cochonilhas, de cuja melada as suas larvas se alimentariam.
Esta traça não possui uma verdadeira diapausa, o que significa que as larvas permanecem na vinha, alimentando-se dos restos dos bagos que ficam agarrados aos cachos secos. Naturalmente, invernos frios eliminariam muitas lagartas, mas os invernos naquelas regiões têm sido suaves. A presença silenciosa, mas destrutiva e sentida de C. gnidiella, evidenciou a necessidade de uma abordagem mais abrangente de monitorização específica para esta praga emergente.
Monitorização remota como ferramenta para o controlo de pragas
A monitorização e a estimativa de risco, com recurso a armadilhas digitais inteligentes , poderão constituir ferramentas fundamentais no controlo de pragas, reforçando os pilares da proteção integrada. Equipadas com sensores e sistemas de comunicação remota, estas armadilhas permitem uma recolha contínua e automatizada de dados sobre a presença e a dinâmica populacional das pragas, como Cryptoblabes gnidiella, permitindo uma deteção ainda mais precoce e a tomada de decisão fundamentada
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Fonte: Agronegócios