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Toxinas em moluscos bivalves
2004-09-09

A proliferação de microalgas em meios aquáticos de água doce e salgada em determinados períodos do ano (entre o Verão e o Outono) podem causar efeitos adversos no Homem. Este fenómeno facilmente detectado e associado a maré vermelha, alterando a cor da água, é denominado por “Harmful Algal Blooms” ou HABs (proliferações de algas nocivas). Das 5000 espécies já encontradas somente 300 têm a capacidade de originarem em determinadas circunstâncias este fenómeno.

 

Certos tipos de microalgas produzem biotoxinas marinhas, que quando concentradas em determinados animais podem causar intoxicações agudas no Homem.

 

O consumo de moluscos bivalves está identificado como um dos principais vectores deste tipo de intoxicação no Homem. Este fenómeno resulta do facto deste tipo de animais possuírem uma alimentação filtradora, podendo em alguns casos transmitir problemas ao Homem sem que os níveis de contaminação na água seja baixo.

 

Estudos científicos permitiram avaliar que a sazonalidade e os tipos de toxicidade presente em alguns bivalves em Portugal. As principais intoxicações do tipo diarreico (DSP), tipo paralisante (PSP) e do tipo amnésico (ASP).

A DSP principal causadora da contaminação dos bivalves em Portugal, apresenta uma sazonalidade bastante alargada com particular incidência nos meses estivais. Esta intoxicação provoca problemas gastrointestinais com o aparecimento de diarreia, vómitos, dores epigástricas, dores abdominais, fraqueza muscular, cefaleias. A diarreia pode surgir entre 1-2 horas até às 24 horas seguintes à ingestão, e a sua frequência pode chegar às 10 a 20 vezes por dia nos casos graves. Estudos realizados na costa Portuguesa, entre 1994 e 2002, verificaram-se de um modo recorrente, o registo de limites que chegaram a 3 vezes o limite máximo permitido. Casos registados na ria de Aveiro, Figueira da Foz, Peniche, Póvoa de Varzim. Deste modo é fácil perceber a elevada frequência de registos de gastroenterites derivadas do consumo de bivalves oriundos destas zonas do nosso país.

 

A intoxicação PSP pode levar mesmo à morte, está mais circunscrita aos meses do final do Verão e do início do Outono de alguns anos. Apesar do vasto conhecimento científico e estudada há relativamente bastante tempo, tem provocado intoxicações com graves consequências. É o caso ocorrido em Julho de 1987 na aldeia de Champerico, Guatemala, quando amêijoas contaminadas causaram cerca de 187 intoxicações registadas oficialmente, das quais 26 foram fatais.  A taxa de mortalidade foi de 50% nas crianças entre 0-6 anos e 5% nas vítimas acima de 18 anos (Rosales-Loessener et al., 1989).

 

Por último, a intoxicação do tipo amnésico (ASP) tem a sua aparição na Primavera no Outono, não sendo frequente atingir níveis de toxicidade que ultrapassem os limites permitidos por lei. A intoxicação por ASP origina igualmente alterações gastrointestinais nas primeiras 24 horas, provocando náuseas, vómitos, diarreia, cólicas abdominais; podendo originar num período de 48 horas alterações neurológicas com reacção à dor aguda diminuída, vertigens, alucinações, confusão e perda de memória temporária, donde advém o nome desta intoxicação. Em pacientes idosos podem surgir lesões cerebrais, coma e mesmo a morte. Em 1987, mexilhões oriundos da costa do Canadá, contaminados com ASP provocaram a intoxicação em mais de 100 pessoas e a morte a 3 idosos.

 

 

 

 

 

 

Vale, P. Biotoxinas marinhas.Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias. (2004) 99 (549) 03-18



Fonte: Vale, P. Biotoxinas marinhas.Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias. (2004) 99 (549) 03-18

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