Trabalho conduzido pela investigadora Diana Silva (FMUP) mostra resposta rápida de “stress” após ingestão de açúcares e gorduras saturadas e alerta para importância das escolhas alimentares diárias.
Uma simples refeição com fast food, rica em açúcares e gorduras saturadas, pode ter um impacto negativo imediato no nosso sistema nervoso e nas nossas vias aéreas, induzindo stress e inflamação. A conclusão é de um estudo desenvolvido na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) com o objetivo de comparar o efeito de duas refeições – mediterrânica (com sopa, salada, azeite, sardinhas, massa integral, fruta e água) e fast food (com hambúrgueres, batatas fritas e bebidas açucaradas) – nas vias respiratórias e no sistema nervoso autónomo, que regula processos fisiológicos da área digestiva, cardiovascular e de resposta ao stress.
A equipa de Imunologia da FMUP, em cooperação com a Faculdade de Ciências de Nutrição e Alimentação (FCNAUP) e a Faculdade de Desporto (FADEUP) da Universidade do Porto, realizou um ensaio clínico que contou com 46 voluntários entre os 18 e os 35 anos, incluindo pessoas saudáveis, com excesso de peso/obesidade e com asma. Todos os participantes ingeriram ambas as refeições, com um intervalo de sete dias entre cada.
Os resultados, publicados na revista científica Nutrients, indicam que basta uma única refeição com alimentos ricos em açúcares, gorduras saturadas, mas pobre em fibras e micronutrientes para desregular o sistema nervoso autónomo, ao passo que uma única refeição de tipo mediterrânico terá um efeito protetor instantâneo, defendendo do stress e da inflamação.
“O nosso estudo mostra que uma única refeição é capaz de induzir uma resposta rápida do sistema nervoso e de influenciar imediatamente o nosso bem-estar e a nossa saúde”, afirma Diana Silva, investigadora da FMUP e principal autora deste estudo.
De acordo com os resultados obtidos, “o sistema nervoso autónomo reage de forma diferente a uma refeição mediterrânica ou à fast food, com as mesmas quilocalorias. A refeição mediterrânica induz uma maior resposta do sistema nervoso parassimpático, protegendo do stress. Pelo contrário, a fast food ativa sobretudo o sistema nervoso simpático, mais ligado ao stress”.
Neste trabalho, a ativação do sistema nervoso foi medida através de pupilometria (resposta da pupila à luz). “A pupila dilata quando há uma ativação do sistema nervoso simpático, nomeadamente em situações de stress. No caso de ativação do sistema nervoso parassimpático, há uma maior constrição da pupila”, explica.
Como esclarece a investigadora da FMUP, a ativação do sistema nervoso simpático observada com a fast food é uma resposta involuntária do nosso organismo em situações de perigo ou ameaça, gerando uma reação fisiológica de luta e fuga (“fight and flight”).
Esta investigação analisou também a função respiratória dos participantes, com recurso a espirometria, e a resposta inflamatória das vias aéreas, através do óxido nítrico no ar exalado (FENO), antes e após cada refeição. Embora a redução da função respiratória tenha sido independente do tipo de refeição, observou-se uma tendência para uma maior inflamação com a fast food.
Vários estudos haviam já evidenciado que a fast food, quando consumida de forma contínua, aumenta o risco de obesidade, asma e de doenças metabólicas e cardiovasculares a longo prazo. Estas novas descobertas vêm chamar a atenção para a importância das escolhas alimentares que fazemos no dia a dia.
Para Diana Silva, “é importante escolhermos bem o que comemos hoje. As nossas opções diárias têm impacto no nosso bem-estar e na nossa saúde. Ao melhorarmos a nossa alimentação, melhoramos também a regulação do nosso sistema nervoso autónomo. Não podemos ser extremistas, mas se estivermos numa situação de maior stress, se não estivermos tão bem, é importante que a nossa escolha, naquele dia, seja mais saudável”, recomenda.
Fonte: Notícias UP